Sexo e prazer: o que você realmente sabe sobre o clitóris?

Enquanto apenas 18% têm orgasmos com estimulação da vagina, esse número aumenta para 75% quando o estímulo também é focado no clitóris. Entenda a história do órgão e por que ele ainda é pouco estudado.

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Publicado em: 5 de dezembro de 2022

Revisado em: 5 de dezembro de 2022

Enquanto apenas 18% têm orgasmos com estimulação da vagina, esse número aumenta para 75% quando o estímulo também é focado no clitóris. Entenda a história do órgão e por que ele ainda é pouco estudado.

 

Os primeiros registros mencionando o clitóris datam de 2 a.C. Na época, apesar de identificada sua existência, os anatomistas não se interessaram em explorar sua função. Anos mais tarde, no período do movimento Renascentista, os anatomistas voltaram a olhar para o órgão, mas os relatos dos pesquisadores da época – que, vale pontuar, eram todos homens –, trazem o clitóris como “uma pequena parte do corpo, insignificante e presente apenas em pessoas intersexo”. E, mais uma vez, sua potência foi deixada de lado.

A dra Carla Iaconelli, médica ginecologista especialista em reprodução humana, faz um recorte histórico importante. 

“Na sociedade católica, o prazer feminino sempre foi um tabu. Na Inquisição, eram chamadas de bruxas as mulheres que tinham esse conhecimento [sobre o próprio prazer]  e o difundiam. Ainda hoje, por exemplo, é comum a prática da mutilação genital feminina em algumas sociedades.” 

Foi só em 1998 que os pesquisadores realizaram a primeira tomografia do clitóris ereto – isso mesmo, assim como o pênis, o clitóris também fica ereto quando há estimulação sexual. Apenas a glande (“botãozinho” visível acima da vagina, do tamanho de uma ervilha) é visível e externa, mas o órgão se estende por até 10 centímetros de cada lado da glande internamente, acompanhando os grandes lábios. Mais um motivo para explorar toda a região durante a relação sexual.

Enquanto apenas 18% têm orgasmos com estimulação da vagina, esse número aumenta para 75% quando o estímulo também é focado no clitóris. Entenda a história do órgão e por que ele ainda é pouco estudado.

Nos últimos anos, essa pequena região começou a ter sua potência desvendada, o que mudou completamente a dinâmica e a compreensão da sexualidade das mulheres e de pessoas trans.

O clitóris conta com mais de 8 mil terminações nervosas, e tem um único objetivo: ser uma fonte de prazer. Como comparação, o pênis tem algo entre 4 e 6 mil terminações. Se esse órgão é tão fantástico, por que ainda sabemos tão pouco sobre ele?

Não há uma única resposta, mas uma coisa é certa: todas elas esbarram no machismo e no conservadorismo que ainda são muito presentes no meio acadêmico e nas grandes instituições, geralmente responsáveis por conduzir esses estudos. O resultado é uma ignorância sobre um órgão carregado por quase 50% da população mundial.

 

Estímulo do clitóris e a fertilização

Embora a principal função do clitóris seja potencializar o prazer, estudos também apontam que a sua estimulação pode facilitar a fecundação. Isso porque manusear a área de maneira adequada pode aumentar o fluxo de sangue, a temperatura interna, a oxigenação e a lubrificação, todas questões que influenciam positivamente na fecundação do óvulo pelo espermatozoide. 

Ou seja, apesar do orgasmo das mulheres não estar diretamente associado à fertilidade, conhecer sexualmente seu parceiro ou parceira sexual e saber como estimulá-lo pode ser um plus para quem está tentando engravidar, como pontua a dra. Carla.

“Recentemente, se descobriu que o clitóris tem alguma função reprodutiva. No momento em que a mulher tem um orgasmo, acontecem ondas de contrações uterinas que otimizam a probabilidade do sêmen ser levado para o útero e de que a fecundação nas trompas [tubas uterinas] aconteça.” 

Veja também: Cirurgia íntima: quando é indicada e quais são os riscos?

 

Conhecimento que liberta

Iniciativas como a OMGYes, plataforma focada em incentivar e ensinar pessoas de todas as idades a conhecerem o clitóris e o prazer sexual de forma plena, com foco na  vulva, têm se popularizado nos últimos anos. 

Em uma pesquisa realizada pela plataforma em parceria com pesquisadores da Faculdade de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Indiana (EUA), além do Instituto Kinsey (EUA), foi confirmado o poder do clitóris na potencialização do orgasmo e da discussão aberta sobre sexualidade.

Enquanto apenas 18% das mulheres já tiveram orgasmos apenas com penetração, o número sobe para 73% quando a estimulação clitoriana acontece simultaneamente. Ao contrário do que 40% das mulheres entrevistadas pensavam, não havia nada de errado com elas por não terem orgasmos somente com a penetração, mas sim uma falta de conhecimento sobre o próprio corpo, fruto de uma sociedade ainda muito conservadora. 

Além de aumentar as chances de ter um orgasmo, o estímulo do clitóris durante o sexo também melhora a qualidade do prazer: 25% das entrevistadas revelaram ter tido orgasmos mais intensos com a manipulação do órgão. 

 

Sexo e prazer não são vergonha

Assim como a vagina e a vulva, o clitóris também muda de pessoa para pessoa. O autotoque, a masturbação e o diálogo com o parceiro ou parceira são as melhores formas de descobrir como o estímulo na região funciona para você. 

“Muitas vezes, as pessoas iniciam a vida sexual sem ter conhecimento sobre a função ou localização do clitóris e acabam vivendo uma sexualidade aquém do que poderiam viver. Informação nunca é demais. Pessoas com vulva precisam se conhecer e saber que existe um órgão destinado ao prazer e ao orgasmo”, finaliza a Dra. Carla.  

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