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Drogas Lícitas e Ilícitas

Juul e o crime continuado | Artigo

Cigarro eletrônico Juul
Publicado em 30/09/2019
Revisado em 11/08/2020

O uso do cigarro eletrônico Juul está associado às centenas de casos graves de insuficiência respiratória aguda, ocorridos nos Estados Unidos.

 

Juul é a marca mais vendida de cigarros eletrônicos, dispositivos para administrar nicotina travestidos de tratamento para o tabagismo.

Com o formato de um pendrive, o dispositivo foi desenhado para atrair crianças e adolescentes. A bateria é carregada em uma hora, em qualquer tomada ou no computador. Para inalar a nicotina vaporizada, basta aspirá-la pelo bocal. Como diziam os antigos camelôs: não requer prática nem tampouco habilidade.

 

Veja também: Cigarro eletrônico e a doença desconhecida

 

Os cartuchos com a droga (chamados de pod), adaptáveis na parte superior do dispositivo, são oferecidos em sabores para atender o gosto infantil: creme, maçã, manga, cereja, mentol.

Na contramão da queda de consumo do cigarro comum entre os adolescentes americanos, o Juul virou epidemia. Um estudo mostrou que entre estudantes de 15 a 17 anos, o uso aumentou de 11%, em 2017, para 21% em 2018. Entre esses, 58% faziam-no mais de dez vezes por mês, frequência que caracteriza adição à nicotina. Cerca de 2/3 dos usuários sequer sabiam que o vapor inalado contém nicotina.

Além do design, da facilidade de uso e dos sabores, a popularidade do Juul foi atingida graças à concentração de nicotina no líquido vaporizado: 5%, enquanto os concorrentes não chegam a 2,5%. Cada cartucho vem com uma quantidade de nicotina equivalente a pelo menos um maço de cigarros comuns.

Além da nicotina, ele contém 44,8 mg/mL de ácido benzoico, enquanto as demais marcas ficam entre 0,2mg/ml e 2 mg/ml. Acrescentado para facilitar a absorção de nicotina nos alvéolos pulmonares, o ácido benzoico inalado com frequência pode provocar tosse, inflamações na garganta e dores abdominais.

No fim de 2018, a Juul detinha cerca de 70% do mercado de cigarros eletrônicos. De acordo com o Dow Jones, a empresa está entre as seis mais valiosas startups, atrás da Uber e Airbnb. Os lucros saltaram de 245 milhões de dólares em 2017, para mais de 1 bilhão de dólares, em 2018.

A companhia se tornou internacional, com postos de vendas na Europa, Canadá, Coreia do Sul, Filipinas, China e outros países. Em Israel e na Índia, está envolvida em batalhas judiciais contra os ministérios da saúde.

Em dezembro de 2018, o grupo Altria (antiga Phililip Morris – fabricante do Marlboro) adquiriu 35% das ações da Juul, por 12,6 bilhões de dólares. Não lhe parece estranho, prezado leitor, uma empresa produtora de cigarros investir essa fortuna na fabricante de um produto apregoado como tratamento para largar do cigarro?

Nesse cenário, surgem centenas de adolescentes com quadros agudos de insuficiência respiratória grave, depois de fumar cigarros eletrônicos. Muitos deles tinham preenchido os reservatórios com preparações oleosas obtidas da maconha. Outros, aparentemente, não.

Parece que, agora, as autoridades americanas vão acordar para o crime continuado dessas companhias que vendem nicotina para criar uma legião de crianças dependentes. Por que só agora?

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