close em braço de homem com lesões causadas pela monkeypox
Publicado em 25/07/2022
Revisado em 16/08/2024

O avanço da mpox  (antiga varíola dos macacos) atrai a atenção de profissionais e organizações de saúde do mundo inteiro. Veja no artigo do dr. Drauzio.

 

Do início de janeiro ao fim de junho, deste ano, a Organização Mundial da Saúde contou mais de 7 mil casos da doença, confirmados com exames laboratoriais, em mais de 60 países.

Assim que surgiram os primeiros doentes na Europa e nos Estados Unidos, o vírus foi sequenciado. A análise das sequências encontradas mostrou que apresentavam grande semelhança com as do vírus que circulava, há décadas, em países do oeste da África, como a Nigéria, associada à mortalidade inferior a 1%. Enquanto o vírus que circula nos países do centro da África, como a República Popular do Congo, a mortalidade chega a 10%.

Esses dados sugerem ser provável que o primeiro paciente do surto atual tenha adquirido o vírus no oeste africano. Situação semelhante à ocorrida nos pacientes diagnosticados fora da África, nos surtos de 2018 e 2019.

Alguns virologistas aventam a hipótese de que o vírus já circulasse nos Estados Unidos e na Europa silenciosamente, sem ser detectado. É pouco provável ter permanecido sem diagnóstico um vírus que provoca lesões de pele tão características da varíola.

A revista “Nature” faz três perguntas sobre o surto atual:

 

 Uma alteração genética poderia explicar os últimos surtos?

Há 17 anos, os virologistas estudam a evolução dos poxvírus com o objetivo de identificar os genes responsáveis pela agressividade e pela transmissibilidade da cepa da África Central, em relação à do oeste do continente, sem encontrar explicação.

Comparado ao de outros vírus, o genoma dos poxvírus é muito grande: mais de seis vezes maior do que o do Sars-CoV-2. Portanto muito mais difícil de estudar.

Além dessa dificuldade, as agências de pesquisa nunca fizeram esforços para financiar pesquisas na área da epidemiologia genômica para sequenciar o vírus, enquanto circulava apenas na África. Essa lacuna dificulta as comparações da cepa atual como as anteriores.

Sabemos que o vírus infecta roedores, esquilos e ratos, mas ainda não foi possível identificar o reservatório natural nos países da África mais afetados.

Esse vínculo entre atividade sexual e a doença não prova que o vírus seja sexualmente transmissível, porque o ato sexual é uma situação que provoca contato íntimo com a pele infectada.

 

O surto atual pode ser contido?

Até aqui, não faz sentido vacinar a população. A opinião dos especialistas é unânime: vacinar apenas os contatuantes nos quatro primeiros dias após o contato com a pessoa infectada. Como o período de incubação vai de 5 a 21 dias, há tempo para estimular a imunidade antes da instalação da doença. O fato de a vacina ser administrada em dose única é outra vantagem em relação àquelas que exigem doses de reforço.

Embora considerem muito baixa a probabilidade de transmissão para animais domésticos, as autoridades europeias recomendam que roedores de estimação, como os hamsters e as cobaias, de pessoas com a doença, sejam encaminhados aos serviços de saúde pública para observação. Esse cuidado é importante, porque nos animais a doença pode se manifestar sem lesões visíveis na pele.

 

No surto atual, o vírus se dissemina de forma diferente?

A transmissão ocorre através do contato íntimo com as lesões, líquidos corpóreos e gotículas respiratórias da pessoa infectada.

Tem chamado a atenção dos casos em homens que fazem sexo com homens, desde que foram descritos os casos ocorridos depois de “raves” na Espanha e na Bélgica. Esse vínculo entre atividade sexual e a doença não prova que o vírus seja sexualmente transmissível, porque o ato sexual é uma situação que provoca contato íntimo com a pele infectada.

Uma das principais diferenças do vírus em relação ao Sars-CoV-2 é a de que os poxvírus permanecem viáveis por vários dias em superfícies, como lençóis, cobertores, maçanetas, torneiras, etc.

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