Ucrânia, tuberculose, HIV, covid | Artigo

Epidemias são outro flagelo em tempos de guerra. Não há país que consiga atender um número crescente de refugiados ou de cidadãos em fuga sem comprometer seu já precário sistema de saúde. Na Ucrânia, não foi diferente. Estão de volta alguns vírus que pareciam estar extintos no mundo por meio da imunização em massa..

enfermeira em hospital da campanha na Ucrânia. Guerras e epidemias andam juntas.

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Publicado em: 11 de abril de 2022

Revisado em: 11 de abril de 2022

A invasão da Ucrânia traz preocupação em relação ao controle de doenças como a covid, pois guerras e epidemias costumam andar juntas.

 

Epidemias são um dos horrores das guerras. A invasão russa da Ucrânia não é exceção.

As imagens de pessoas refugiadas em abrigos subterrâneos e estações de metrô, sem acesso à água corrente e às medidas básicas de higiene, mostram os riscos de disseminação de doenças infecciosas que elas correm.

Veja também: Por que algumas vacinas precisam de reforço e outras não?

Para agravar, o grande número de feridos que superlota os hospitais e monopoliza a atenção das equipes de atendimento, desestrutura o sistema de saúde e compromete os programas de tratamento de doenças crônicas, de atendimentos de emergências clínicas e de vacinação.

A guerra foi deflagrada no fim de fevereiro, quando a onda de casos de covid causados pela variante Ômicron começava a refluir, depois de ter atingido o pico no início daquele mês. A invasão tornou inoperante o programa ucraniano de imunizações e inviabilizou as testagens em massa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os índices de vacinação no país estão muito baixos. Na capital Kiev, ficam ao redor de 65%, mas em algumas cidades do interior mal atingem 20%.

A mesma dificuldade em vacinar contra a covid tem preocupado a OMS por causa da poliomielite, do sarampo e de outras doenças transmissíveis, num país em que a descrença na eficácia das vacinas já era problema antes da guerra, como afirma em entrevista à revista “Nature”, Jarno Habicht, diretor do escritório ucraniano da Organização.

No ano passado, foram diagnosticados dois casos de poliomielite no país. A testagem dos contatuantes permitiu isolar o vírus em 19 deles.

Como na poliomielite em cada 200 pessoas que contraem o vírus apenas uma apresenta a forma paralítica da doença, o número de infectados deve ser bem maior. É triste assistir à circulação de um vírus que chegamos perto de extinguir do mundo, por meio da imunização em massa.

Numa situação em que as pessoas são obrigadas a abandonar suas casas, como aderir a tratamentos que exigem medicação diária para evitar recaídas, como na tuberculose e na aids?

A queda nos índices de vacinação contra o sarampo e o surto que começou no país em 2017 – e que até 2020 já havia provocado 115 mil casos – são outra ameaça. Com esforço, os serviços de saúde tinham conseguido imunizar até 82% da população, número alto, mas que não consegue impedir a disseminação de um vírus tão contagioso quanto esse. Na cidade sitiada de Kharkiv, em que a cobertura vacinal está abaixo de 50%, os habitantes se deslocam para lugares mais seguros, levando com eles o risco de surtos epidêmicos.

Vacinar contra a covid, sarampo e pólio, a população em fuga desordenada é tarefa urgente que desafia as agências de saúde e as organizações internacionais.

Em artigo publicado na “Nature”, Leslie Roberts lembra que a Ucrânia tem uma das mais altas taxas de incidência de tuberculose resistente a múltiplas drogas, um dos maiores desafios do combate à doença no mundo inteiro.

Lá, ocorrem cerca de 32 mil casos de tuberculose por ano, um terço dos quais é resistente aos medicamentos empregados de rotina, característica que encarece e torna mais complexo o esquema de tratamento.

Para complicar, 22% dos pacientes com tuberculose ativa também convivem com o HIV. Tuberculose é a principal causa de morte em pacientes HIV-positivos, no país.

Enquanto o HIV é transmitido principalmente nas relações sexuais e no compartilhamento de seringas e agulhas infectadas, o bacilo da tuberculose se espalha por meio das gotículas eliminadas pela tosse e pela respiração, infectando especialmente os que vivem em ambientes insalubres com aglomerações.

Numa situação em que as pessoas são obrigadas a abandonar suas casas, como aderir a tratamentos que exigem medicação diária para evitar recaídas, como na tuberculose e na aids?

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