O poder das preces | Artigo

Rezar pela vida do outro traz benefícios àqueles a quem as orações se destinam? Leia artigo do dr. Drauzio sobre o poder das preces.

homem reza quieto, com a mão no rosto e cabisbaixo. poder das prezes é estudado

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Publicado em: 28 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Muitos acreditam no poder das preces para melhorar doenças. Prever de forma precisa a influência das orações na evolução de uma enfermidade pode não estar ao alcance da medicina.

 

A prece é um momento de encontro transcendental que traz conforto ao espírito dos que a ela se entregam com fervor. Submeter as aflições e incertezas inerentes à condição humana aos desígnios de um ser dotado de infinita sabedoria, mesmo quando escreve por linhas tortas, tem o poder de conferir resignação e paz interior para grande número de pessoas.

Por reconhecer esse efeito catártico, as religiões recomendam que seus seguidores rezem todos os dias, em horas de reflexão solitária ou em uníssono durante celebrações coletivas.

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A sensação de impotência diante das demonstrações de fragilidade que a vida insiste em nos dar, frequentemente leva os crentes a buscar em Deus a ajuda não encontrada entre os homens. Pedir humildemente que Ele tenha piedade de nós e que preserve a saúde de quem amamos é, certamente, a súplica mestra das orações cotidianas.

Rezar pela vida do outro pode trazer serenidade a quem o faz, mas traria benefícios àqueles a quem as preces se destinam?

Para responder objetivamente a essa pergunta, uma fundação religiosa americana (John Templeton Foundation) investiu 2,4 milhões de dólares num estudo batizado com a sigla STEP (Study of Therapeutic Effects of Intercessory Prayer), organizado com a finalidade de aplicar metodologia científica para avaliar a influência das preces no bem estar alheio.

Participaram do estudo 1.800 pacientes submetidos à cirurgia das coronárias conhecida como “ponte de safena”. Na noite anterior à operação, cerca de 70 voluntários anônimos foram reunidos para iniciar uma série de orações diárias, com duração de duas semanas, em favor da metade dos pacientes, escolhidos por sorteio. A outra metade foi operada sem ter recebido orações.

Os resultados foram analisados por uma equipe de pesquisadores formada por psicólogos, clérigos e médicos de seis instituições, entre as quais a Universidade Harvard, a Mayo Clinic e o Integris Baptist Heart Hospital.

Os pesquisadores não encontraram qualquer diferença nos índices de complicações cirúrgicas, no tempo de permanência na UTI, no tempo decorrido até a alta hospitalar ou na mortalidade entre os dois grupos.

Paralelamente, foram acompanhados dois subgrupos. No primeiro, os pacientes eram informados que os voluntários se reuniam durante duas semanas para orar por eles. No segundo grupo, os pacientes desconheciam a existência das orações.

Os resultados surpreenderam os pesquisadores. O grupo informado da realização das preces em seu benefício apresentou porcentagem mais alta de arritmias cardíacas no pós-operatório: 59% versus 52%.

Existem interações complexas e mal conhecidas entre o sistema nervoso, o sistema imunológico e o aparelho cardiorrespiratório que afetam grande número de funções fisiológicas.

A responsabilidade por esse aumento na frequência de arritmias foi atribuída à adrenalina. Liberada pelos mecanismos envolvidos na ansiedade, níveis mais altos de adrenalina na circulação sanguínea podem agravar distúrbios do ritmo cardíaco.

Um dos responsáveis pelo estudo, Charles Bethea, cardiologista do Baptist Heart Hospital, procurou explicar as razões da ansiedade: “O paciente pode pensar que seu estado deve ser muito grave para terem convocado uma equipe com a finalidade de rezar por ele”.

A partir desses dados, podem os céticos assegurar que as orações não têm valia para evitar complicações cirúrgicas? Apesar dos resultados negativos, o estudo STEP foi desenhado de forma que os pacientes observados não tiveram contato com os voluntários que rezavam sem sequer conhecê-los. O anonimato dessa relação pode eventualmente fazer diferença. A falta de contato pessoal impede o aparecimento de interações afetivas que normalmente se estabelecem entre familiares e amigos, com repercussão no ânimo, nos quadros depressivos ou no estado de ansiedade dos doentes.

Existem interações complexas e mal conhecidas entre o sistema nervoso, o sistema imunológico e o aparelho cardiorrespiratório que afetam grande número de funções fisiológicas. Prever de forma precisa a influência das emoções na evolução de uma enfermidade pode não estar ao alcance da Medicina.

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