Nobel de Medicina 2015 | Artigo

Nobel de Medicina em 2015 foi para os responsáveis pela descoberta de tratamentos para filariose, oncocercose e malária. Leia no artigo do dr. Drauzio.

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Publicado em: 19 de outubro de 2015

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Prêmio Nobel de Medicina em 2015 foi oferecido aos responsáveis pela descoberta de tratamentos para filariose, oncocercose e malária.

 

A metade do Nobel deste ano foi para William Campbell e Satoshi Omura, a outra para YouYou Tu.

Os dois primeiros, pela descoberta de um tratamento para os vermes causadores da filariose (elefantíase) e da oncocercose (cegueira dos rios). Youyou Tu recebeu o prêmio pela obtenção de um medicamento contra a malária.

A filariose linfática é uma parasitose provocada por um mosquito que transmite um verme (nematoide) que, na fase adulta, mede 4 cm a 5 cm e vive cinco a sete anos. As fêmeas grávidas libertam larvas minúsculas (microfilárias) que migram para os vasos linfáticos, no interior dos quais instalam um processo inflamatório que compromete a circulação da linfa, provocando inchaço crônico e incapacitante especialmente nos membros inferiores (elefantíase) e na bolsa escrotal.

 

Veja também: Nobel de Medicina 2009

 

Há 120 milhões de pessoas com elefantíase na África, Ásia e nas Américas.

A oncocercose ou cegueira dos rios africanos é transmitida pela fêmea de uma mosca. As larvas injetadas na picada formam um nódulo no subcutâneo, local em que amadurecem até atingir 3 cm a 5 cm. Capazes de sobreviver até 18 anos, as fêmeas chegam a liberar a cada dia mais de mil microfilárias, que migram pelo corpo, causando dermatite crônica, feridas, prurido intenso e despigmentação da pele. Ao atingir os olhos causam cicatrizes na córnea que levam à perda da visão.

É a segunda causa mundial de cegueira provocada por doenças infecciosas. As moscas vivem à beira dos rios, na vizinhança dos quais transmitem oncocercose para 25 milhões de habitantes dos países da África situados abaixo do deserto do Saara, do Sul da Ásia e das Américas Central e do Sul.

O japonês Satoshi Omura é microbiologista especializado em isolar produtos naturais. Na década de 1970, em colaboração com pesquisadores americanos, trabalhou com espécies novas de Streptomyces, bactérias encontradas no solo, conhecidas por produzir substâncias com atividade antibacteriana e pela dificuldade de cultivo em laboratório.

A partir de milhares de culturas, Omura selecionou as 50 mais promissoras, uma das quais produziu a avermectina.

O parasitologista americano William Campbell modificou a estrutura química da avermectina até obter a ivermectina, droga mais potente, com atividade contra diversos nematoides intestinais humanos e em animais de interesse comercial.

As descobertas dos três cientistas premiados beneficiaram centenas de milhões de pessoas que vivem nas regiões mais pobres do mundo.

A ivermectina é um tratamento altamente eficaz, que pode ser administrado apenas uma ou duas vezes por ano. Mais de 200 milhões de pessoas das regiões mais remotas já foram tratadas.

O objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) é eliminar a filariose até 2020 e a oncocercose até 2025.

A malária aflige a humanidade desde os tempos dos egípcios e da China antiga. Segundo a OMS, ocorreram 198 milhões de casos e 584 mil mortes. apenas no ano de 2013. A maioria das mortes ocorre em crianças com menos de cinco anos.

Na década de 1960, os chineses organizaram um projeto nacional para desenvolver novos tratamentos para a doença, que se tornava cada vez mais resistente à convencional cloroquina.

A equipe de Youyou Tu foi buscar na medicina tradicional chinesa todas as receitas existentes para baixar a febre. Descobriu que a planta Artemisia annua se destacava, por ser mencionada em centenas de prescrições.

Uma delas, escrita por Ge Hong em 340 DC, propunha que o chá das folhas da planta fosse preparado com água fria, em vez de fervente. Por esse método de extração, ela constatou que o chá destruía 100% dos parasitas da malária em camundongos e macacos doentes.

Essas experiências permitiram isolar a Artemisina que demonstrou alta eficácia nos ensaios clínicos, porque destrói o parasita antes de infectar os glóbulos vermelhos.

Esquemas que associam artemisina às drogas clássicas, em combinação com as redes contra mosquitos tratadas com inseticida, reduziram dramaticamente a mortalidade por malária. No período de 2000 a 2013, o número de mortes no mundo diminuiu 47%. Na África, a redução nesse período foi de 54%.

As descobertas dos três cientistas premiados beneficiaram centenas de milhões de pessoas que vivem nas regiões mais pobres do mundo.

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