Leucemia mieloide crônica | Artigo

Nos últimos dez anos, a LMC deixou de ser uma doença inexoravelmente fatal. Para isso, é fundamental seguir a orientação de seu médico e jamais interromper o tratamento por conta própria.

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Publicado em: 27 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Na leucemia mieloide crônica, a transformação maligna ocorre quando a célula-tronco está mais madura. A doença resultante pode ser tratada com menos agressividade porque costuma evoluir mais lentamente.

 

Na leucemia mieloide crônica, a célula-tronco é afetada numa fase mais madura, o que resulta numa proliferação lenta, porém inexorável, de células precursoras das hemácias, das plaquetas e de um tipo de glóbulo branco conhecido como neutrófilo ou granulócito. Os neutrófilos formam a infantaria do exército de defesa imunológica: são as células encarregadas de dar o primeiro combate a micro-organismos invasores.

 

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É uma doença de baixa prevalência: surge 1 paciente em cada 100 mil habitantes. Menos de 5% dos casos ocorrem na infância ou adolescência. O diagnóstico costuma ser feito na faixa entre 45 e 60 anos. Apenas 1/3 dos casos acontece depois dos 60 anos.

 

Manifestações clínicas

 

A doença apresenta três fases de evolução:

 

Fase benigna ou crônica

O início das manifestações clínicas geralmente é precedido por uma fase silenciosa com meses ou anos de duração. Em cerca de 50% das vezes o diagnóstico é feito antes de qualquer manifestação.

Os primeiros sintomas são letargia, fraqueza muscular, suores durante a noite e perda de peso. Alguns pacientes referem desconforto abdominal causado por aumento de volume do baço que, às vezes, chega a ocupar todo o lado esquerdo do abdômen.

Ocasionalmente, pequenos cortes podem provocar sangramentos persistentes, e traumatismos insignificantes dar origem a manchas roxas na pele (hematomas).

Em situações menos freqüentes pode haver febre e crescimento de ínguas (linfonodos) no pescoço, nas axilas e nas virilhas.

 

Fase acelerada

É caracterizada pela multiplicação mais rápida das células malignas. Há aumento significante de glóbulos brancos no sangue, principalmente às custas de formas imaturas (blastos).

Se não houver tratamento, a anemia se acentua, bem como o crescimento do baço e dos linfonodos. A sintomatologia de fraqueza, astenia, sudorese noturna e a perda de peso ficam mais intensas.

 

Fase blástica

Os sintomas pioram e a doença se torna altamente agressiva: os blastos (células indiferenciadas da medula óssea que dão origem aos diferentes tipos de células do sangue) invadem a circulação e passam a constituir 30% ou mais dos glóbulos brancos presentes.

Surgem infiltrados de células leucêmicas em vários tecidos, os linfonodos aumentam, o baço atinge suas maiores dimensões. A anemia exige transfusões de sangue frequentes; infecções generalizadas e hemorragias colocam a vida em risco.

 

Cromossomo Filadélfia

 

Os cromossomos presentes em cada uma de nossas células são como estantes de livros em cujas prateleiras estão ordenados os nossos genes. Na LMC, há um desarranjo nessa ordenação: é como se metade de um livro, que deveria estar na estante 9, fosse se juntar com a metade de outro da estante 22. Em linguagem genética, dizemos que ocorre uma translocação entre os cromossomos 9 e 22. Essa alteração é conhecida como cromossomo Filadélfia, nome da cidade na qual foi descrita pela primeira vez.

Detectar a presença ou ausência do cromossomo Filadélfia nas células da medula óssea e do sangue é importante para documentar atividade ou remissão da doença em resposta ao tratamento.

 

Tratamento

 

Anos 1950: Surge o primeiro quimioterápico com ação contra a LMC: o bussulfam, droga capaz de retardar a invasão da corrente sangüínea por células malignas, mas dotada de toxicidade pulmonar que limitava seu uso.

Anos 1970: A hidroxiureia substitui o bussulfan, graças à rapidez com que permitia o controle hematológico e à menor toxicidade. Mas, essas duas drogas raramente faziam desaparecer o cromossomo Filadélfia da circulação, sinal de que a doença permanecia em atividade.

 

Veja também: Leucemia mieloide crônica requer persistência durante tratamento

 

Anos 1980/1990: É demonstrada a atividade do interferon alfa, proteína envolvida na resposta imunológica, capaz de provocar desaparecimento das células leucêmicas do sangue em 80% dos casos e do cromossomo Filadélfia em 58% (remissão citogenética). Apesar da toxicidade associada à administração do interferon, surgia o primeiro medicamento capaz de aumentar de modo significante a sobrevida.

A partir da constatação de que os pacientes em remissão citogenética como resultado do tratamento viviam mais tempo, a negativação do cromossomo Filadélfia passou a ser o objetivo primordial do tratamento.

 

Transplante de medula óssea

 

A experiência com os transplantes de medula óssea, nos anos 1990, mudou o prognóstico da doença. Trata-se de um tratamento de alta complexidade que envolve a disponibilidade de um doador compatível capaz de fornecer células da medula óssea, para serem transfundidas num receptor previamente tratado com altas doses de quimioterapia.

 

Veja também: Dr. Drauzio entrevista especialista em tranplante de medula óssea. Assista

 

Apesar da alta toxicidade das drogas empregadas, da mortalidade e das complicações crônicas associadas ao procedimento, o transplante de medula óssea se tornou o único tratamento capaz de curar definitivamente a doença. Os resultados são melhores quando os transplantes são realizados na fase crônica, e em pacientes mais jovens.

A idade do doente, a indisponibilidade de doadores compatíveis, a concomitância de outras doenças, além da falta de recursos financeiros, limitam as indicações do transplante. Nos Estados Unidos e Europa, eles são realizados em menos de 30% dos pacientes.

 

Considerações finais

 

  • Nos últimos dez anos, a LMC deixou de ser uma doença inexoravelmente fatal. Tratamentos como o imatinib, permitem que os portadores de LMC levem vida normal, por um tempo possivelmente muito mais longo do que aquele imaginado hoje. Para isso, é fundamental seguir a orientação de seu médico e jamais interromper o tratamento por conta própria;
  • Procure cuidar da saúde da melhor forma possível: alimentação saudável, atividade física regular, controle adequado da pressão arterial, da glicemia, do colesterol, e faça exames médicos com regularidade;
  • Procure encarar sua doença como um problema crônico, que orientado por um médico competente e tratado com as melhores drogas pode permitir que você viva como as outras pessoas;
  • JAMAIS INTERROMPA O TRATAMENTO POR CONTA PRÓPRIA.

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