HIV-positiva | Artigo

mulher com laço vermelho na camiseta, simbolizando a luta contra o HIV. O sexo feminino sofre preconceito

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Publicado em: 26 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

O sexo feminino enfrenta preconceito e situações sociais específicas que fazem as mulheres com HIV, muitas vezes, abrirem mão da vida sexual e da perspectiva de maternidade.

 

Nenhuma doença infecciosa afetou tantas mulheres como a aids. Dos 40 milhões de portadores do vírus que a Organização Mundial da Saúde estima existirem, pelo menos 50% são mulheres, e essa parcela não para de aumentar.

Nos países da África situados abaixo do deserto do Saara, 60% das infecções ocorrem no sexo feminino. Como o risco de adquirir o vírus na faixa dos 15 aos 24 anos é de três a seis vezes maior entre as mulheres, na África do Sul, por exemplo, uma em cada quatro chega infectada aos 22 anos de idade. No Brasil, a porcentagem de mulheres que convive com o HIV é a que mais cresceu na última década.

 

Veja também: Aids feminina

 

Quando surgiram os primeiros casos da doença, no início dos anos 1980, foram definidos alguns “grupos de risco” para caracterizar aqueles mais expostos à infecção: homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis, receptores de transfusão de produtos sanguíneos. Essa denominação foi posteriormente abandonada, substituída por “comportamento de risco”, expressão mais precisa porque um usuário de droga que compartilhe seringas com dez companheiros HIV-negativos não adquire o vírus, enquanto uma senhora monogâmica corre risco com o marido infectado. Se ainda empregássemos o termo antigo, no entanto, diríamos que hoje as mulheres fazem parte dos “grupos de risco”.

Do ponto de vista anatômico e fisiológico, o sexo feminino é mais suscetível à infecção pelo HIV pelas seguintes razões:

1) A vagina oferece ao vírus uma superfície de contato mais extensa do que a da mucosa do pênis,

2) As mulheres estão sujeitas a repetidas infecções ginecológicas e a doenças sexualmente transmissíveis que abrem fissuras na mucosa e atraem glóbulos brancos para defender o local. A existência dessas portas de entrada para o HIV e a presença de glóbulos brancos (alguns dos quais constituem as células-alvo do vírus) na vizinhança criam condições propícias à transmissão;

3) O uso de pílulas anticoncepcionais provoca modificações na mucosa vaginal que facilitam a penetração do HIV;

4) Adolescentes constituem a subpopulação feminina mais vulnerável – não apenas pelo eventual comportamento de risco, mas pelas alterações inflamatórias do colo uterino características da imaturidade dos órgãos genitais nessa fase da vida reprodutiva;

5) Estudos recentes mostraram que o risco de transmissão do HIV do homem para a mulher duplica durante a gravidez e o pós-parto.

Mesmo as mais privilegiadas, sem aflições financeiras, socialmente respeitadas, vivem a angústia de decidir: revelar a realidade e enfrentar o preconceito da maioria ou escondê-la e ficar isolada, sem ter com quem compartilhar as dificuldades enfrentadas.

Mais influentes do que os detalhes anatômicos e a fisiologia reprodutiva, as condições socioeconômicas conspiram a favor da transmissão preferencial do HIV para o sexo feminino. A dependência financeira e a tradicional submissão às regras estabelecidas pelos homens, dominadores na maioria das sociedades, colocam as mulheres em posição de desvantagem para exigir de seus parceiros a prática de relações sexuais seguras.

A rejeição sistemática ao uso do preservativo, a poligamia e o gosto dos homens por mulheres jovens, sexualmente imaturas, portanto, mais vulneráveis, completam o cenário para a propagação da epidemia feminina.

A infecção pelo HIV impõe à portadora o dilema de depender financeiramente do homem que a infectou ou ter de ganhar a vida por conta própria para manter a si mesma e os filhos a seu encargo. O medo de deixá-los órfãos e do desemprego, bem como o estresse gerado pela insegurança da situação, é responsável pela alta prevalência de quadros de depressão e de distúrbios de ansiedade descritos entre HIV-positivas.

Mesmo as mais privilegiadas, sem aflições financeiras, socialmente respeitadas, vivem a angústia de decidir: revelar a realidade e enfrentar o preconceito da maioria ou escondê-la e ficar isolada, sem ter com quem compartilhar as dificuldades enfrentadas.

A experiência mostra que a maioria escolhe a segunda opção. E paga o preço de ser obrigada a trancar-se no banheiro para tomar remédio, a esconder frascos de medicamentos como se fossem drogas ilícitas, a mentir no trabalho para ir ao médico, a viver o medo de ser reconhecida nas salas de espera.

Desiludidas, muitas jovens infectadas abrem mão da vida sexual e da perspectiva de maternidade. As que não se conformam com tal sorte, como devem agir? Usar preservativo sempre, mas contar a verdade ao pretendente antes da primeira relação sexual ou apenas mais tarde em caso de envolvimento?

Na primeira hipótese, é quase certo que ele se afastará de imediato e, mais grave, dificilmente guardará segredo; em pouco tempo, o boato se espalhará.

Na segunda, a mulher só revelará sua condição quando estiver apaixonada, segura de que é correspondida e de que vale a pena preservar aquele relacionamento. Mas qual será a reação do companheiro? Saberá compreender? Ou julgará que foi traído?

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