Higiene e asma | Artigo

Menino pequeno fazendo inalação.. veja relação entre higiene e asma

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Publicado em: 9 de novembro de 2015

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Estilo de vida relativamente livre de germes da infância de hoje e o uso disseminado de antibióticos teriam impacto negativo no funcionamento harmonioso do sistema imunológico. Veja a relação entre higiene e asma.

 

Crianças da zona rural têm menos asma. Na cidade, as que frequentam creches ou vivem em famílias numerosas são menos suscetíveis do que os filhos únicos criados em ótimas condições de higiene.

Há 26 anos, essas observações serviram de base para a “hipótese higiênica”, segundo a qual o estilo de vida relativamente livre de germes da infância de hoje e o uso disseminado de antibióticos teriam impacto negativo no funcionamento harmonioso do sistema imunológico.

 

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A convivência com micro-organismos pouco agressivos, presentes no ambiente desde o tempo de nossos antepassados, modularia a resposta imunológica para evitar reações exageradas a substâncias estranhas, já nas primeiras fases do desenvolvimento.

A suspeita recaiu sobre o ar respirado desde as mais tenras idades na zona rural, rico em fragmentos de moléculas das paredes celulares de bactérias mortas: os lipopolissacarídeos. Também conhecidos como endotoxinas, esses fragmentos causariam um estado temporário de inflamação nos pulmões que, de alguma forma, lhes diminuiria a capacidade de reagir com energia desproporcional aos alérgenos do ambiente.

Um grupo europeu acaba de publicar na revista “Science”, um estudo que propõe uma nova explicação para o efeito protetor das endotoxinas.

Os pesquisadores demonstraram que a injeção de lipopolissacarídeos na mucosa nasal de camundongos com seis meses a um ano de idade, é capaz de protegê-los mais tarde contra a asma causada pelos germes existentes na poeira.

A proteção estaria associada à menor produção de moléculas pró-inflamatórias das células que revestem a superfície interna dos pulmões, ao entrar em contato com o pó.

Uma enzima (A20) existente nas células dessa camada interna teria papel central no bloqueio parcial da resposta inflamatória. Camundongos transgênicos, que não produzem a enzima A20, não são protegidos contra a asma pela administração de endotoxinas.

Quando foram testadas as células brônquicas de pessoas saudáveis, a exposição às endotoxinas reduziu a liberação de moléculas pró-inflamatórias em níveis semelhantes aos encontrados nos camundongos. Nos asmáticos, a diminuição foi menos acentuada.

Finalmente, em cerca de 500 crianças do ambiente rural estudadas, aquelas com mutações que reduzem a produção de A20 têm cinco vezes mais chance de apresentar asma.

O pneumologista Bart Lambrecht, envolvido no estudo, diz: “Precisamos dessa exposição ambiental para esfriar o epitélio respiratório e ensiná-lo a distinguir o que é, do que não é perigoso”.

É provável que a atividade de A20 também seja importante para restringir a reatividade excessiva da mucosa intestinal do recém-nascido, de modo a torná-la tolerante às bactérias que ajudam a digerir os alimentos.

Falta demonstrar se esse efeito protetor persiste durante a vida adulta, e explicar por que a ingestão de leite não processado também protege contra a asma, embora não entre em contato com as mucosas respiratórias.

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