Estupidez a la Trump | Artigo

Trump foi infectado pelo vírus da covid, doença que sempre desconsiderou. Foi tratado num hospital de primeira linha, por uma junta de médicos. Recebeu a medicação muito cara, paga pelos contribuintes. Saiu do hospital mais arrogante do que entrou.

candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trrump, que teve covid, discursa

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Publicado em: 13 de novembro de 2020

Revisado em: 13 de novembro de 2020

Trump tem sido um fiasco ao enfrentar a pandemia de covid nos Estados Unidos, país líder em mortes pela doença.

 

Donald Trump saiu do hospital com ares de John Wayne no saloon lotado de bandoleiros perversos. Todavia, em contraposição ao caubói lendário que enfrentava os inimigos com a cara, a coragem e a rapidez no gatilho, Trump correu para a suíte presidencial de um dos melhores centros médicos do país, assim que surgiram os sintomas da covid.

Na manhã do dia da alta, vangloriou-se: “Eu sairei do grande Walter Reed Medical Center hoje, às 18:30. Eu me sinto realmente bem. Não tenha medo da covid. Não deixe que ela domine sua vida. Nós desenvolvemos, sob a administração Trump, algumas drogas realmente grandes & conhecimento. Eu me sinto bem melhor do que vinte anos atrás”.

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A julgar pela forma física atualmente exibida por ele, só consigo enxergar duas hipóteses: 1ª) estava sob o efeito eufórico da dexametasona, corticoide que pode causar excitação, confusão mental, insônia, alterações de humor e distúrbios cognitivos; 2ª) 20 anos atrás, aos 54 anos, sua condição física era deplorável.

Na sexta-feira, dia 2 de outubro, apesar de a Casa Branca afirmar que o presidente apresentava apenas “sintomas leves” da doença, ele foi de helicóptero para o hospital. Fosse para internar todos os pacientes com “sintomas leves”, num país que já conta com pelo menos 7,5 milhões de infectados, seria preciso recrutar os leitos de todos os hospitais do Ocidente e, ainda, pedir alguns milhares para a China.

No domingo, Trump chocou as pessoas de bom senso ao sair do Walter Reed para cumprimentar admiradores reunidos nas proximidades, colocando em risco os agentes do serviço secreto no interior do carro que o conduziu.

Na segunda-feira, ao receber a alta-relâmpago, qual foi sua primeira providência ao entrar na Casa Branca? Retirar a máscara, é claro. Nada a estranhar, num homem que infectou a esposa, diversos auxiliares, gente de seu círculo de amizades e, sabe lá, quantos mais.

Para quem recebeu os melhores tratamentos existentes, e voltou para a Casa Branca com médicos de plantão dia e noite e helicóptero à porta, é fácil posar de John Wayne.

Somente nas 48 h que antecederam o diagnóstico, período em que o risco de transmissão é alto, debateu com o candidato adversário John Biden, viajou para um rali com milhares de participantes em Minnesota, encontrou com apoiadores e doadores num clube de golfe em Nova Jersey e manteve contato com dezenas de auxiliares na Casa Branca. Você, prezado leitor, usou máscara nessas ocasiões? Nem ele.

Os médicos, no entanto, não se iludiram com o otimismo dos porta-vozes oficiais: prescreveram dexametasona, remdesivir e anticorpos monoclonais – medicamentos administrados apenas nos casos com risco de morte – a um custo de mais de U$100 mil, pagos pelos contribuintes.

A dexametasona reduz a mortalidade dos pacientes já hospitalizados. Nos estudos clínicos, o antiviral remdesivir administrado por via intravenosa não conseguiu diminuir o número de mortes, mas foi aprovado por reduzir o número de dias de internação nas UTIs. Dirigidos especificamente contra as proteínas da superfície do coronavírus, os anticorpos monoclonais estão em fase de avaliação experimental, portanto inacessíveis à plebe.

Profissionais que administrassem tratamentos agressivos e caros como esses para um paciente “apenas com sintomas leves”, poderiam ser processados por “malpractice”, segundo as leis americanas.

Ao ser tratado num centro hospitalar modelo e de contar com dezenas de médicos à disposição, um presidente que diz: “Não tenha medo da covid. Não deixe que ela domine sua vida”, tripudia sobre os milhões de americanos negros e latinos sem acesso sequer aos testes para diagnóstico da doença, nas salas de emergência superlotadas dos poucos hospitais que atendem aqueles sem plano de saúde.

No país que pratica a medicina mais cara do mundo, não existe sistema público de saúde. Na epidemia, a mortalidade entre os negros é o dobro daquela dos brancos.

Estudo recente da Universidade Cornell mostrou que “Trump é o principal divulgador de notícias falsas sobre a covid-19, as quais partindo de um presidente podem ter consequências desastrosas”. Não é por acaso que os Estados Unidos são campeões mundiais em número de mortos por covid.

Para quem recebeu os melhores tratamentos existentes, e voltou para a Casa Branca com médicos de plantão dia e noite e helicóptero à porta, é fácil posar de John Wayne.

Quero ver se seria macho de ir para casa, sem médico por perto, para se tratar com cloroquina.

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