Enfermeiras, ômicron e influenza | Artigo

Enfermeiros enfrentam duras jornadas para cuidar de pacientes em meio a duas epidemias. Com salários baixos e, muitas vezes, péssimas condições de trabalho, as mulheres representam 78% da força de trabalho.

enfermeira com máscara em hospital, em meio à epidemia de ômicron e influenza

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Publicado em: 18 de janeiro de 2022

Revisado em: 19 de janeiro de 2022

Enfermeiras encaram duras jornadas de trabalho em meio à epidemia de ômicron e influenza.

 

Depois dos doentes, quem mais sofre na atual epidemia de ômicron e H3N2 são as enfermeiras.

Pacientes hospitalizados com doenças respiratórias dão muito trabalho para as equipes. Além das medicações, precisam de fisioterapia, inalações, suplementação de oxigênio, ajuda para sair do leito, cuidados de higiene e atenção redobrada para as quedas da saturação de oxigênio, que poderão exigir transferência urgente para as unidades de terapia intensiva.

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As necessidades são tantas que as equipes devem incluir fisioterapeutas, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais, farmacêuticas, pessoal encarregado da limpeza e esterilização, além dos médicos, odontólogos e dos funcionários da administração.

Nesses quase dois anos de pandemia, o desgaste desses profissionais tem sido grande. Na fase atual, em que à epidemia causada pela variante ômicron, a mais contagiosa de quantas surgiram, juntou-se à de influenza que decidiu nos infernizar fora de hora, a procura por unidades de pronto atendimento, leitos hospitalares e UTIs aumenta rapidamente. Em algumas cidades, já faz lembrar o pesadelo dos piores dias.

Demanda tão intensa vem num momento em que as equipes de saúde estão desgastadas por tantos meses de trabalho ininterrupto e desfalcadas de profissionais infectados por esses vírus que se transmite com muita facilidade.

Em março de 2021, quando a pandemia fez o primeiro aniversário entre nós, a Fiocruz completou a pesquisa: “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil”, que consultou 25 mil profissionais de todas as áreas da saúde. Os questionários foram elaborados pela Escola Nacional de Saúde Pública e pela Fiocruz.

A principal conclusão foi a de que os profissionais estavam esgotados. Queixavam-se de trabalho excessivo, esgotamento físico e mental, convivência diária com a dor e o sofrimento, medo de contaminação e morte, e a insegurança causada pela falta de equipamento de proteção, problema grave naquela época.

O impacto da pandemia havia provocado mudanças na vida de 95% dos entrevistados: perturbações do sono, irritabilidade, crises de choro, incapacidade de relaxar, dificuldade de concentração, insatisfação com a carreira, pensamentos negativos, alterações do peso corpóreo, exaustão, ideação suicida (8,3%).

Quem nunca passou 12 ou 24 horas em pé no meio de pessoas doentes que chegam uma atrás da outra, sem parar um minuto, sem ter tempo nem uma cadeira decente para descansar as pernas, não faz ideia do sacrifício dessas mulheres.

Além dessas, queixavam-se da falta de respeito dos usuários e familiares, discriminação na própria vizinhança e no transporte público por serem considerados “transmissores do vírus”. Mais de 90% consideraram as fake news o maior obstáculo no combate à doença.

Os dados revelaram que quase 78% da força de trabalho é feminina. No caso da enfermagem, esse número sobe para 85%. A maioria é de pele preta ou parda e vive na periferia das cidades grandes.

Por serem na maioria pretas, pardas e pobres, cai sobre elas o peso do preconceito racial e do descaso de uma sociedade injusta. Enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem recebem salários tão baixos que poucas podem se dar ao luxo de ter apenas um emprego, a maioria trabalha em dois ou três lugares.

Depois de passarem mais de uma hora em ônibus e trens lotados, são obrigadas a se desdobrar em plantões diurnos e noturnos que invadem os fins de semana, nos quais precisam lidar com o desrespeito frequente das chefias, dos gestores e do público que descarrega nelas a falta de educação, a revolta pelas horas de espera por atendimento, pelas filas e pelas frustrações pessoais.

Quem nunca passou 12 ou 24 horas em pé no meio de pessoas doentes que chegam uma atrás da outra, sem parar um minuto, sem ter tempo nem uma cadeira decente para descansar as pernas, não faz ideia do sacrifício dessas mulheres. Enquanto todos tentam se esconder do vírus, elas deixam os filhos em casa todas as manhãs para ir ao encontro dele.

Seria mais justo dar o nome de assistência de enfermagem ao que chamamos de assistência médica. São elas que administram as medicações que prescrevemos, controlam os sinais visitais, acompanham até o banheiro os que estão enfraquecidos, trocam fraldas, dão banho, procuram confortar, dar força aos que desanimam, acalmar os que se desesperam e segurar a mão dos que chegam ao fim.

De onde tiram tanta energia, tanta determinação para ajudar o próximo?

 

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