Açúcar e demência | Artigo

Relação entre taxa de açúcar e demência foi explorada em estudo, que concluiu que o excesso de glicose afeta o cérebro. Leia no artigo do dr. Drauzio.

idosa segura sorvete há relação entre açúcar e demência

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Publicado em: 7 de abril de 2014

Revisado em: 11 de agosto de 2020

A relação entre taxas de açúcar no sangue e demência foi explorada em pesquisa, que concluiu que altos índices de glicose afetam o cérebro.

 

O envelhecimento da população transformou as demências em problema de saúde pública. As epidemias mundiais de obesidade e diabetes parecem aumentar a incidência de algumas formas de demência, embora os resultados dos estudos sejam, muitas vezes, controversos.

A relação entre as taxas de açúcar no sangue e o risco de desenvolver demência, foi explorada num trabalho conjunto realizado nas Universidades de Washington e Harvard.

Pelo número de pessoas acompanhadas, a metodologia científica criteriosamente selecionada e a publicação em revista de grande impacto (“The New England Journal of Medicine”), essa pesquisa tem tido grande repercussão na literatura.

Veja também: Leia entrevista completa sobre demências

O estudo envolveu 1.228 mulheres e 839 homens com 65 anos de idade ou mais (média: 76 anos), sem sinais de demência, que faziam parte de uma coorte seguida pelo Adult Changes in Thought (ACT), no estado de Washington.

Os participantes retornavam a cada dois anos para testes de avaliação das habilidades cognitivas. Se o resultado mostrasse algum déficit, eram encaminhados para uma bateria de exames clínicos, laboratoriais e neuropsicológicos para afastar ou confirmar o diagnóstico de Alzheimer ou de outro quadro demencial.

Os níveis de glicose no sangue foram recolhidos das sucessivas dosagens de glicemia e de hemoglobina glicada, realizadas pelos participantes a partir de 1988. As médias desses valores nos últimos cinco anos foram comparadas com as de períodos anteriores.

Para afastar a ingerência de outros fatores sabidamente envolvidos no risco de desenvolver demência, o grupo foi estratificado de acordo com a prática de atividade física, nível educacional, fumo, doença coronariana, doenças cerebrovasculares e hipertensão.

A conclusão dos autores é enfática: “Nesse estudo prospectivo realizado na comunidade, verificamos que níveis mais altos de glicose estão associados a aumento do risco de demência, em populações com ou sem diabetes. Os dados sugerem que níveis mais elevados de glicose podem ter efeitos deletérios no cérebro que envelhece”.

Nos cinco anos que precederam a avaliação, a média da glicemia de jejum dos participantes sem diabetes foi de 101 mg/dL, número que aumentou para 175 nos portadores de diabetes.

Em 6,8 anos — período médio de acompanhamento — ocorreram 524 casos de demência (25,4%), assim distribuídos: 450 entre os 1724 sem diabetes (26,1%) e 74 entre os diabéticos (21,6%).

Entre os participantes sem diabetes, o risco de demência aumentou à medida que os níveis de glicose no sangue aumentaram: entre aqueles com glicemia de jejum de 115 mg/dL houve 18% mais demências do que naqueles com glicemia igual a 100.

Entre os diabéticos, quanto mais alta a glicemia maior o número de demências. Aumentar a glicemia de 160 mg/dL para 190 mg/dL fez aumentar 40% no risco de demência.

A conclusão dos autores é enfática: “Nesse estudo prospectivo realizado na comunidade, verificamos que níveis mais altos de glicose estão associados a aumento do risco de demência, em populações com ou sem diabetes. Os dados sugerem que níveis mais elevados de glicose podem ter efeitos deletérios no cérebro que envelhece”.

Fartura à mesa, vida sedentária, obesidade, hipertensão arterial, diabetes, demência na velhice, será esse o destino implacável de nossa espécie?

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