Há divergência sobre o fato de a variante inglesa do coronavírus ser mais letal.
Há mais dúvidas do que certezas sobre a agressividade das novas variantes do coronavírus.
A discussão que acontece agora no Reino Unido, vai nos ajudar a entender o impacto da variante P1, brasileira, identificada em Manaus, mas já presente em São Paulo e em outros estados.
Veja também: Como evitar que as novas variantes se espalhem
Duas semanas atrás, o governo britânico lançou a advertência de que a variante B.1.1.7, descrita em setembro do ano passado (2020), além de ser mais contagiosa, aumentaria o risco de morte pela covid, quando comparada às que circulavam no país antes dela.
Smriti Mallapaty faz uma discussão sobre o tema para a revista “Nature”.
Em 3 de fevereiro, pesquisadores da célebre London School of Hygiene & Tropical Medicine surpreenderam o mundo, ao estimar que a nova variante aumentaria o risco de morte, em cerca de 35%.
Segundo eles, o risco de óbito na população de 70 anos a 84 anos, aumentaria de 5% nos infectados pela variante anterior, para 6% nos infectados pela B.1.1.7. Já, nos homens com 85 anos ou mais, esses números passariam de 17% para aproximadamente 22%.
É possível que B.1.1.7 cause doença mais grave, aumentando o número de internações, mas que o risco de óbito seja igual ao da variante anterior, predominante no início da epidemia.
Nicholas Davies, epidemiologista da London School, analisou os dados de 850 mil pessoas com PCR-positivo para o coronavírus, que estavam em acompanhamento ambulatorial no período de primeiro de novembro a 11 de janeiro.
Davies mostrou que a nova variante estava associada à mortalidade mais alta em todas as faixas etárias, em mulheres e homens, e nas diversas etnias.
Não há unanimidade na interpretação desses resultados, no entanto.
Os críticos se referem a três aspectos: 1) o número de mortes entre os mais jovens foi pequeno para concluir que a mortalidade aumentou nessa faixa etária; 2) o estudo não levou em consideração a existência de comorbidades, como diabetes e obesidade; 3) na análise, foi incluída apenas uma pequena fração do total de mortes ocorridas no Reino Unido: 7%. Os resultados poderiam ser diferentes, se fossem considerados os pacientes hospitalizados.
Resultados preliminares publicados por outros grupos não mostraram aumentos de mortalidade entre pacientes infectados pela nova variante, internados nos hospitais ingleses.
É possível que B.1.1.7 cause doença mais grave, aumentando o número de internações, mas que o risco de óbito seja igual ao da variante anterior, predominante no início da epidemia.
Pode haver outra explicação: como essa variante é mais contagiosa, ocorre aumento do número de casos graves, portanto mais mortes nas UTIs sobrecarregadas, com dificuldades de atendimento.
Os autores do estudo refutam essa conclusão, com o argumento de que os riscos de morte das duas variantes foram analisados em pessoas testadas no mesmo período e nas mesmas localidades, atendidas em condições hospitalares semelhantes.
É muito provável que a mesma discussão seja válida para a variante de Manaus, que já se espalha pelo país. Seja qual for a explicação, entretanto, a persistência da epidemia garantida pelas aglomerações de irresponsáveis que não usam máscara, potencializa o risco de emergirem mutações mais perigosas.