Cirurgia da obesidade | Artigo

Nos últimos anos, surgiram técnicas operatórias menos agressivas, associadas à menor mortalidade pós-operatória, à recuperação mais rápida e custos reduzidos. Mas, a cirurgia bariátrica será sempre indicada com cautela extrema.

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Publicado em: 11 de abril de 2011

Revisado em: 11 de agosto de 2020

Cirurgia para obesidade é medida indicada apenas em casos graves. Por meio dela, procura-se reduzir o volume do estômago.

 

Cirurgia para obesidade é medida radical indicada apenas em casos graves. Por meio dela, procura-se reduzir o volume do estômago e, dependendo da técnica, o comprimento do intestino para dificultar a absorção de nutrientes.

Batizada com o nome de bariátrica, é um procedimento complexo que demanda disciplina na dieta, mudança comportamental, prática regular de atividade física e acompanhamento médico pelo resto da vida. Por meio dela, o obeso troca uma doença grave por outra de curso mais benigno: a desnutrição crônica.

Para indicá-la, é preciso conhecer o índice de massa corporal (IMC), calculado dividindo-se o peso pela altura elevada ao quadrado (IMC = peso / altura x altura).

Desde 1991, existe um consenso internacional de que a cirurgia bariátrica tem as seguintes indicações gerais:

1) IMC maior ou igual a 40;

2) IMC maior ou igual a 35, quando houver estados mórbidos associados (hipertensão e/ou diabetes difíceis de compensar, limitações ortopédicas, apnéia do sono etc.);

3) Falha no tratamento clínico após 2 anos;

4) Obesidade grave instalada há mais de 5 anos.

Segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 2 milhões de pessoas com IMC 40, no Brasil. Como esse número aumenta 3% ao ano, surgem 5.000 casos novos por mês.

 

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O tratamento clínico das complicações da obesidade custa para o sistema de saúde seis vezes mais do que o cirúrgico, uma vez que a perda de peso induzida pela cirurgia reduz a incidência de diabetes, facilita o controle da hipertensão, do colesterol, a correção de problemas ortopédicos e melhora a qualidade de vida.

Apesar desses benefícios, faltavam demonstrações definitivas de que tal redução de riscos resultava em aumento da sobrevida. Embora soubéssemos que o excesso de peso encurta o tempo de vida, alguns estudos epidemiológicos sugeriam que perder peso também poderia fazê-lo. A contradição persistia pela dificuldade em separar o emagrecimento intencional daquele causado por doença grave.

Finalmente, acabam de ser publicados dois trabalhos demonstrando que a perda de peso associada à cirurgia bariátrica tem impacto no aumento de sobrevida.

O primeiro foi conduzido na Suécia. Nele, 2.010 obesos graves, com idade entre 37 e 60 anos, foram operados segundo três técnicas diferentes. Como grupo controle, foram seguidos clinicamente 2.037 obesos de características semelhantes.

Depois de 15 anos de acompanhamento, os pacientes operados haviam perdido de 13% a 27% do peso corporal, dependendo da técnica cirúrgica empregada. No grupo controle, os pesos oscilaram entre ganhos e perdas da ordem de apenas 2%.

No mesmo período, a mortalidade do grupo operado caiu 24%. A redução foi mais acentuada nos indivíduos mais velhos e naqueles com IMC mais elevado. A cirurgia reduziu a incidência de diabetes, doenças cardiovasculares, apneia do sono e dores articulares, e melhorou a qualidade de vida.

O segundo trabalho foi realizado nos Estados Unidos, no período de 1984 a 2002. Os autores compararam a evolução de 7.925 obesos operados segundo a mesma técnica, com um número idêntico de obesos com características comparáveis, tratados clinicamente.

Depois de sete anos, em média, haviam ocorrido 231 mortes entre os operados, contra 321 no grupo controle. A operação diminuiu 40% do risco de morte. A mortalidade por diabetes caiu 92%; por ataque cardíaco, 59% e, por câncer, 60%.

Entretanto, a mortalidade por acidentes e suicídios aumentou 58% entre os operados. Ainda assim, o balanço geral foi favorável à cirurgia: para cada 1.000 operados, foram evitadas 171 mortes por doença, enquanto ocorreram 35 por acidentes e suicídio.

Nos últimos anos, surgiram técnicas operatórias menos agressivas, associadas à menor mortalidade pós-operatória, à recuperação mais rápida e custos reduzidos. É possível que a vida sedentária, a fartura de alimentos, a genética desfavorável, a falta de tratamentos clínicos eficazes e a grande dificuldade de perder peso de que muitas pessoas se queixam venham a aumentar as indicações cirúrgicas, no futuro. Mas, a cirurgia bariátrica será sempre indicada com cautela extrema. Não é mágica por meio da qual você entra gordo e sai magrinho do centro cirúrgico.

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