Doenças transmitidas por Aedes aegypti e Aedes albopictus

Os dois mosquitos são transmissores de uma série de doenças, entre elas dengue, chikungunya e zika. Mas há diferença entre os dois insetos. Saiba mais.

Imagem macro de um mosquito Aedes aegypti, que transmite a forma urbana da febre amarela, picando uma pessoa.

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Publicado em: 17 de outubro de 2016

Revisado em: 8 de fevereiro de 2024

O Aedes aegypti e o Aedes albopictus são transmissores de uma série de doenças, entre elas dengue, chikungunya e zika, mas há diferença entre os dois insetos.

 

Aedes aegypti

Ramo: Arthropoda (pés articulados);

Classe: Hexapoda (três pares de patas);

Ordem: Diptera (um par de asas anterior funcional e um par posterior transformado em halteres);

Família: Culicidae;

Gênero: Aedes;

Espécie:  Aedes aegypti 

O Aedes aegypti é o mosquito transmissor da dengue, da chikungunya, da zika e da febre amarela urbana. Parece que chegou às Américas nos navios que traziam escravos da África para trabalhar na lavoura e na mineração. Seu ciclo de vida  compreende quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto.

Menor que os mosquitos comuns, o Aedes aegypti é preto com pequenos riscos brancos no dorso (com o formato de uma lira), na cabeça e nas pernas. Suas asas são translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível ao ser humano.

O macho, como acontece em várias outras espécies, alimenta-se de néctar e seiva das plantas. A fêmea, no entanto, necessita de sangue para o amadurecimento dos ovos, que são depositados separadamente nas paredes internas de objetos, próximos a superfícies de água limpa, local que lhes oferece melhores condições de sobrevivência.  A postura dos ovos é distribuída em vários criadouros, como estratégia para garantir a preservação da espécie. No início, eles são brancos, mas logo se tornam negros e brilhantes.

Mesmo quando a água seca, os ovos não morrem e eclodirão tão logo as condições de umidade e temperatura (dias quentes e chuvosos), voltem a ser favoráveis, o que pode acontecer muito tempo depois. Se as fêmeas são portadoras do vírus no momento da postura, o mais provável é que grande parte de suas descendentes já nasça infectada (transmissão vertical), o que as torna aptas para transmitir a enfermidade, tão logo o vírus complete seu ciclo evolutivo no interior do corpo do inseto.

O  Aedes aegypti é um mosquito urbano, que prolifera em áreas de maior densidade populacional. Próprio das regiões tropical e subtropical, não resiste a baixas temperaturas nem a altitudes elevadas. Estudos demonstram que, uma vez infectada e isso pode ocorrer numa única inseminação, a fêmea jamais deixará de transmitir o vírus.

As fêmeas do A. aegypti preferem o sangue humano como fonte de proteína ao de qualquer outro animal vertebrado. Em geral, picam os pés, os tornozelos e as pernas das vítimas, porque voam baixo. Atacam de manhãzinha e ao entardecer. Sua saliva possui uma substância anestésica, que torna quase indolor a picada. Tanto as fêmeas quanto os machos buscam abrigo dentro das casas ou em terrenos próximos, na vizinhança. Embora sua presença tenha sido registrada em algumas zonas rurais, acredita-se que ovos ou larvas desses mosquitos tenham sido levados em recipientes utilizados no transporte de objetos ou mercadorias para diferentes regiões.

 

Aedes albopictus

 

Ramo: Arthropoda;

Classe: Hexapoda;

Ordem: Diptera;

Família: Culicidae;

Gênero: Aedes

Espécie: Aedes albopictus

Considerado vetor secundário do vírus da dengue, o Aedes albopictus – mosquito que apresenta características morfológicas semelhantes e a mesma capacidade de proliferação do Aedes aegypti – é motivo de preocupação em países asiáticos, uma vez que é responsável por alguns surtos da doença em regiões onde o A. aegypti não é encontrado. No Brasil, apesar de não haver nenhum registro de exemplares adultos infectados com o vírus da dengue, a espécie é alvo de estudos que monitoram o crescimento de sua população e investigam o risco que podem representar na disseminação da doença.

 

Veja também: Zika nas Américas

 

Além da dengue, o Aedes albopictus é considerado transmissor potencial do vírus da chikungunya, da zika e da febre amarela. Estudos mostram que ele pode infectar-se com o vírus dessas doenças e transmiti-lo para seus descendentes (transmissão vertical).

A presença desse mosquito foi registrada no país, pela primeira vez, nos estados do sudeste (Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo), na década de 1980.  Em pouco tempo, porém, ele foi identificado em praticamente todo território nacional. Oriundo da Ásia, possui patas com listas brancas semelhantes às do Aedes aegypti. No entanto, são insetos maiores, mais escuros e possuem apenas uma lista branca no centro e ao longo das costas. Seu ciclo evolutivo é semelhante do do A. aegipty.

Encontrado tanto na zona urbana como na rural, têm preferência por áreas cobertas por vegetação (por isso é considerado um mosquito de jardim), no entorno ou mais distante das residências. Instala seus criadouros em orifícios existentes nos troncos das árvores, em cascas de frutas ou em recipientes abandonados no meio da vegetação.

O Aedes albopictus alimenta-se de sangue humano ou de qualquer outro animal mamífero ou silvestre e é mais resistente ao frio do que o Aedes aegypti. Essa capacidade de fácil adaptação ao ambiente torna seu combate mais difícil. De certa forma, ele representa também uma ameaça, haja vista que pode transformar-se num potencial vetor de vírus silvestres para a população urbana.

 

Dengue

 

A dengue é causada por um arbovírus (vírus em que parte da replicação ocorre em insetos) do gênero Flavivírus da família Flaviviridae. Ele é transmitido de uma pessoa para outra pela picada da fêmea de um hospedeiro intermediário, o mosquito Aedes aegypti. Uma vez infectada, a fêmea jamais deixa de transmitir o vírus da dengue. Apesar da vida curta, ela é voraz: pode picar uma pessoa a cada 20 ou 30 minutos.

No Brasil, ainda não foram registrados casos de transmissão do vírus da dengue pela picada do A. albopictus. Mesmo assim, a espécie é alvo de estudos que monitoram o crescimento de sua população e investigam seus aspectos biológicos e ecológicos em comparação aos do A. aegypti.

Já foi liberada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), uma vacina contra o vírus da dengue, em três doses. Ela protege contra os quatro tipos de vírus da dengue, que o Aedes aegypti pode transmitir. Entretanto o faz de forma desigual e sua eficácia não é considerada muito alta.

Está em fase final de testagem, outra vacina contra dengue, em dose única, desenvolvida pelo Instituto Butantan (SP), em parceria com institutos de saúde americanos, que também protege contra os quatro tipos de vírus.

 

Febre amarela

 

A febre amarela é uma doença viral de curta duração, causada também por um arbovírus do gênero Flavivírus da família Flaviviridae. Na verdade, é uma doença de animais (zoonose) que ataca o homem. No Brasil, ainda ocorre em algumas regiões.

Há dois tipos diferentes de febre amarela: a urbana e a silvestre. Ambas apresentam praticamente os mesmos sintomas e são transmitidas pela picada de mosquitos.

A forma urbana, praticamente erradicada do Brasil, é transmitida pelo Aedes aegypti que se infectou com o vírus ao picar uma pessoa portadora da doença: ciclo homem-mosquito-homem.

O transmissor da forma silvestre é a fêmea de um mosquito do gênero Haemagogus (família Culicidae), que adquiriu o vírus de um macaco infectado e transmitiu-o ao homem: ciclo macaco – mosquito – homem.

Quanto ao A.albopictus, nunca foi encontrado um exemplar infectado com o vírus da febre amarela na natureza, embora seja possível a infecção ocorrer em laboratório. Por isso, ele é encarado como potencial vetor da doença.

Existe uma vacina eficaz  contra a febre amarela, elaborada com o vírus vivo atenuado, produzida no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), no  Brasil.

 

Febre chikungunya

 

A febre chikungunya é uma doença causada por um arbovírus, o CHIKV, que pertence ao gênero Alphavirus da família Togaviridae. Ele foi identificado pela primeira vez na Tanzânia, na década de 1950.  O CHIKV tem como vetor os mosquitos Aedes aegypti  e Aedes albopictus, os mesmos que transmitem o vírus da dengue. Como a descoberta desse vírus é mais ou menos recente, a disseminação rápida da doença no Brasil é atribuída à falta de anticorpos na população para combater o novo agente da infecção e à incidência maior dos mosquitos que servem de vetores para transmitir a doença.

A febre chikungunya não é uma moléstia contagiosa que pode passar de uma pessoa para outra. No entanto, já foram registrados casos de transmissão vertical, da mãe para o bebê durante o trabalho de parto, nas transfusões de sangue e pelo transplante de órgãos .

Embora alguns sintomas sejam semelhantes nas três doenças (dengue, febre amarela e chikungunya) o mais característico da febre chikungunya é a dor nas articulações, que pode pedurar por anos e comprometer a qualidade de vida. É uma dor tão forte que as pessoas não conseguem endireitar o corpo quando ficam em pé. Daí o nome chikungunya que, no idioma africano, quer dizer “aqueles que se dobram”.

 

Zika

 

O Zika virus (ZIKAV) é um arbovírus que pertence à família Flaviviridae, a mesma dos vírus da dengue e da febre amarela. Ele pode infectar humanos e macacos, que funcionam como reservatórios para a contaminação de mosquitos do gênero Aedes. No Brasil, identificado em 2015, na Bahia, ele encontrou no Aedes  aegypti o vetor ideal para a transmissão da febre zika, uma doença nova no país.

Os estudos mostram que a picada do mosquito Aedes aegypti não é a única forma de transmitir o vírus da zika. A transmissão pode ocorrer também da mãe para o feto durante a gestação, por transfusão de sangue e por via sexual. Neste último caso, diante de achados recentes, como a presença do vírus no sêmen depois que não é mais foi detectado na corrente sanguínea, em maio de 2016, a OMS divulgou um guia para prevenção da transmissão desse vírus por via sexual.

Não há evidências de transmissão do vírus da zika por meio do leite materno, na urina e na saliva, embora sua presença já tenha sido detectada nesses fluidos.

Estudos preliminares, em laboratório, apontam que os mosquitos Aedes albopictus e os da espécie Culex (a dos pernilongos domésticos muito numerosos no Brasil) mantiveram partículas do vírus ativo no corpo, depois da ingestão de sangue contaminado, o que sugere que eles podem transformar-se em vetores potenciais da doença.

Em 80% dos casos, a febre zika é uma doença assintomática, que pode ter complicações bastante graves. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde já reconheceram oficialmente a relação entre o nascimento de bebês com má-formação cerebral (microcefalia) e a circulação simultânea do ZIKAV, no Brasil. Estudos indicam também uma ligação entre o Zika virus e a Síndrome de Guillain- Barré.

Não há vacinas contra o vírus da febre chikungunya e da zika. Até o momento, a maneira mais garantida para a prevenção das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti é controlar a proliferação dos mosquitos transmissores dos vírus, tarefa que cabe a cada um de nós individualmente, à sociedade como um todo e aos poderes públicos de forma responsável e organizada.

 

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