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Diabetes

Tempo de espera para agendar consultas faz com que pacientes com diabetes desistam de acompanhar a condição

O dado é de uma pesquisa nacional inédita, que prevê que mais de 2 milhões de pacientes com diabetes não conseguem acompanhamento adequado. 
Publicado em 13/11/2024
Revisado em 13/11/2024

O dado é de uma pesquisa nacional inédita, que prevê que mais de 2 milhões de pacientes com diabetes não conseguem acompanhamento adequado. 

 

De acordo com o Censo de 2022, divulgado pelo IBGE, o Brasil já contabiliza mais de 20 milhões de pessoas com diabetes. A maioria, cerca de 90% delas, recebe o diagnóstico de diabetes tipo 2, que ocorre quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. 

Os principais fatores de risco associados a esse tipo de diabetes são sobrepeso e obesidade, sedentarismo, hipertensão, colesterol alto, histórico familiar e idade (a doença é mais comum após os 40 anos). 

Veja também: Diabetes tipo 1, tipo 2 e gestacional: conheça as diferenças

Por ser uma condição tão incidente, fica o questionamento, de antemão: será que todos têm acesso a especialistas e exames para ajudar no controle e tratamento do diabetes? 

A pesquisa nacional inédita “Radar nacional sobre tratamento de diabetes no Brasil”, do Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, e realizada pela consultoria Imagem Corporativa, estima que 2 milhões de pacientes não conseguem acompanhamento adequado e que populações vulneráveis, de menor renda e escolaridade, são as mais prejudicados. 

 

Falta de acompanhamento médico de quem tem diabetes

Entre os ouvidos pela pesquisa, em 13% dos casos, o médico não sugeriu periodicidade de acompanhamento, 10% não costumam passar por consultas e 6% o fazem com frequência menor do que deveriam. Isso resulta em uma falta de entendimento da própria saúde, já que 30% estão com a hemoglobina glicada superior a 7%, considerada alta, e 42% não sabem ou não lembram o percentual.

Outro dado mostra que 58% dos participantes da pesquisa fazem acompanhamento com médicos de família, em vez de endocrinologistas, que são os mais indicados para cuidar da condição. Assim, por conta da dificuldade de acesso ao profissional especializado, 12% dos respondentes dizem ter retinopatia diabética (alteração da retina que pode levar à cegueira), 32% têm neuropatia diabética, 25% doenças cardiovasculares, 23% doenças sexuais, 10% nefropatia diabética e 10% feridas nos pés.

 

Mais barreiras de acesso 

Prazos para agendamento de consultas, quantidade de médicos disponíveis e dificuldade de acesso a resultados de exames estão entre os principais problemas citados pelos pacientes. Segmentos vulneráveis da população, com menor escolaridade e renda, são os mais impactados por essas barreiras. Entre os que integram as classes D/E e entre os que se autodenominam de cor preta, por exemplo, o grau de insatisfação chega a 90%. 

Mesmo entre aqueles que possuem plano de saúde, os resultados refletem a importância de alcance e cobertura do SUS no tratamento de diabetes no Brasil, já que:

  • 77% utilizam algum serviço gratuito para consultas, dentre os quais 72% por meio do SUS;
  • Mesmo entre os que têm plano de saúde, 26% passam por alguma consulta gratuita para monitoramento da doença;
  • Dos que têm diabetes, 31% costumam pagar por consultas, dentre eles, a maior parte por meio dos planos de saúde ou clínicas particulares mais acessíveis;
  • 67% dos que têm diabetes fazem seus exames pelo SUS; 38% pagam por algum tipo de exame;
  • Os medicamentos gratuitos ou subsidiados pelo governo, vetor mais importante na opinião dos entrevistados, alcançam 84% dos que têm diabetes;
  • Mesmo entre os que têm plano de saúde, a grande maioria (73%) se beneficia de medicamentos gratuitos ou subsidiados;
  • Maioria (52%) consegue medicamentos nas UBSs e 44% recorrem à Farmácia Popular.

“Os dados da pesquisa mostram como o diabetes precisa ser tratado com urgência na saúde pública. Problemas graves são apontados, principalmente pela população mais pobre, como barreiras que dificultam o acesso ao tratamento da doença no Brasil. Precisamos de mais investimentos, profissionais qualificados e atenção do poder público nessas questões”, ressalta a coordenadora do Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo.

Mais comum, 75% dos respondentes da pesquisa disseram ter diabetes tipo 2, enquanto apenas 9% reportaram o diabetes tipo 1. Segundo a dra. Monica Gabbay, professora e pós-doutora em endocrinologia e coordenadora do Ambulatório de Tecnologia em Diabetes do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os dados preocupam:

“Considerando que mais de dois terços desses pacientes dependem do SUS e aqueles mais vulneráveis são os mais afetados pela dificuldade de agendamento de consultas, exames e obtenção de medicação, é possível entender este cenário inadequado de controle glicêmico no Brasil, que resulta em complicação microvascular com comprometimento dos olhos, rins e nervos e as complicações macrovasculares, como alteração de colesterol e pressão. Isso revela a complexidade dos desafios enfrentados pelas pessoas com diabetes e sublinha a importância de um tratamento mais acessível e eficaz para todos”.

 

Complicações do diabetes

Outra condição associada, potencializada pelo acompanhamento inadequado, são os problemas de visão. “O diagnóstico precoce da retinopatia diabética é essencial para que pacientes com diabetes possam receber tratamento de forma oportuna, preservando a visão e evitando complicações irreversíveis. A triagem oftalmológica regular desses pacientes torna-se, portanto, um passo crítico, pois permite identificar e tratar precocemente alterações oculares, evitando a progressão da doença e promovendo uma melhor qualidade de vida”, afirma o dr. Caio Regatieri, professor adjunto do Departamento de Oftalmologia da Unifesp.

Ainda de acordo com Vanessa Pirolo, a adesão ao tratamento do diabetes e das doenças correlacionadas é muito baixa. “É necessário olhar com atenção para esses dados e identificar os gargalos que impedem o tratamento adequado não só do diabetes, mas também da obesidade, hipertensão, colesterol alto e os problemas de visão, por exemplo, começando pela maior disponibilidade de profissionais especializados nos serviços de saúde”, afirma.

 

Vacinação entre os que têm diabetes

A pesquisa também mostra que 69% dos entrevistados desconhecem a existência de vacinas especiais para pessoas com diabetes. De acordo com o Departamento Científico de Endocrinologia, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), pessoas com diabetes devem tomar todas as vacinas do Calendário Básico de Vacinação, além dos imunizantes contra: hemófilos influenza tipo b, influenza, hepatite B, varicela (catapora) e pneumococo

Quase todos os entrevistados (93%) se vacinaram gratuitamente pelo SUS, no entanto, 60% disseram nunca terem se vacinado nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs) porque nunca ouviram falar do serviço. No total, apenas 11% já o fizeram, taxa que chega a 20% entre os que dizem ter diabetes tipo 1.

“Isso só mostra a necessidade de campanhas informativas a respeito dos riscos que pacientes diabéticos têm em desenvolver formas graves de doenças evitáveis pela vacinação, bem como dos benefícios da imunização. Melhorar o acesso a esta intervenção é fundamental para alcançar o benefício”, salienta o dr. Renato Kfouri, vice- presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

 

Perfil dos ouvidos pela pesquisa

Por fim, a pesquisa utilizou uma amostra quantitativa de 1.843 pessoas de adultos (com 18 anos ou mais) com diagnóstico referido de diabetes, entre 1 de julho e 22 de agosto de 2024. 

A maioria dos que declaram ter diabetes integra a classe C (52%), 58% têm apenas o nível fundamental de escolaridade e renda familiar mensal de até dois salários-mínimos, ou seja, cerca de R$2.824. Apenas 24% têm plano de saúde. No total, pretos e pardos somam 52% dos respondentes e a ocorrência de mulheres é um pouco superior à média da população (58% contra 51%, respectivamente). 56% das pessoas com diagnóstico de diabetes tem mais de 60 anos, e 42% têm entre 30 e 59 anos. 

A pesquisa teve apoio da AstraZeneca, Bayer, Boehringer, Genom, GSK, Medtronic, Novo Nordisk, Roche e Servier.

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