E se a insulina não existisse?

A descoberta da insulina foi uma das mais importantes do século XX e deu início a uma nova fase da medicina no tratamento do diabetes.

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Publicado em: 3 de setembro de 2021

Revisado em: 8 de setembro de 2021

Em 2021 é celebrado o centenário do descobrimento da insulina, uma das maiores descobertas da medicina e que beneficia milhares de pacientes com diabetes. 

 

Imagine que até meados da década de 1920, receber o diagnóstico de diabetes era praticamente uma sentença de morte. Para começar, o diagnóstico era algo nebuloso, pois a fisiopatologia e a prevalência do diabetes na população eram totalmente desconhecidos. 

Era comum os médicos não identificarem o emagrecimento, o cansaço, a vontade constante de beber água e urinar como possíveis causas da doença. Além disso, como não existia um tratamento específico, em questão de  semanas ou meses depois do diagnóstico (quando havia um), quase todos os pacientes iam a óbito. No início da década de 1920, a expectativa de um paciente com diabetes tipo 1 era de no máximo 2 anos. 

O único tratamento era uma dieta restritiva, chamada de dieta da inanição. A pessoa consumia no máximo 500 kcal por dia a fim de controlar os níveis de açúcar no sangue. Essa saída drástica gerava um dilema: por um lado, os doentes não entravam mais em coma devido aos picos mais altos de glicose no sangue, por outro, iam definhando por falta de alimentação.

Por isso médicos e cientistas são unânimes ao dizer que a descoberta da insulina, “hormônio da vida”, foi uma das mais importantes do século. 

 

Por que a insulina é importante?

A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e tem como função levar a glicose da corrente sanguínea para o interior das células, onde ela é quebrada para gerar energia. Quando a produção de insulina é insuficiente ou o hormônio é mal absorvido pelo organismo, o açúcar se acumula na corrente sanguínea e, com isso, surge o diabetes, uma condição que causa inúmeras complicações a longo prazo, como neuropatias, problemas renais, cardíacos e de visão

Graças à descoberta da insulina “sintética”, em julho de 1921, por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, pacientes com diabetes podem ter uma vida normal hoje em dia. Na época, a descoberta ocorreu depois que os pesquisadores injetaram um extrato pancreático em um cão diabético sem pâncreas e observaram uma queda acentuada dos níveis de açúcar no sangue.

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Evolução da insulina nos últimos anos

No ano de 1924, surgiram as primeiras insulinas não sintéticas, derivadas diretamente do pâncreas de bois e porcos, sendo a destes a mais eficiente. Aqui vai uma curiosidade de como a ciência avançou: nessa época, as farmacêuticas dependiam dos frigoríficos para conseguir diariamente as toneladas de pâncreas dos animais. Para quase 2 mil quilos de pâncreas, era possível extrair cerca de 450 gramas de insulina. 

No início da década de 1980, os avanços da engenharia genética permitiram o desenvolvimento da insulina humana sintética, produzida a partir de bactérias, especialmente a Escherichia coli. O gene para a insulina humana foi inserido no DNA de bactérias, resultando na chamada insulina de DNA recombinante. Esse método representou mais uma conquista no tratamento do diabetes, principalmente porque a molécula dessa insulina é mais parecida com a produzida pelo organismo, oferecendo um índice de rejeição bem menor que as insulinas de origem animal e a redução dos efeitos colaterais.

A variedade de tratamento do diabetes hoje em dia é enorme. Existem as insulinas análogas de ação rápida, prolongada e ultrarrápida, sem contar as inaláveis. Antes a aplicação era feita só com agulha, hoje há canetas, agulhas pequenas e as bombas de insulina. 

Sem contar os medicamentos, como a metformina, que costuma ser a primeira alternativa de tratamento do diabetes tipo 2.

Atualmente, o SUS já fornece à população opções como as insulinas humana NPH e humana regular, e os medicamentos metformina, glibenclamida, glicazida e mais recentemente a dapagliflozina.

É importante dizer que a descoberta da insulina rendeu um Prêmio Nobel aos pesquisadores e revolucionou o tratamento de 463 milhões de pessoas que até hoje se beneficiam da insulina, ainda hoje o mais eficiente tratamento no controle da diabetes

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