Incorporada no fim de 2023 pelo SUS, a terapia fotodinâmica torna-se uma alternativa inovadora para evitar mutilações em quem tem câncer de pele.
O câncer de pele não melanoma é um dos tumores mais frequentes no Brasil, com cerca de 185 mil casos novos anuais causados principalmente pela exposição excessiva ao sol. Embora as taxas de mortalidade desse tipo de câncer sejam baixas, ele pode provocar mutilações expressivas se o diagnóstico não for precoce.
Para tentar otimizar o tratamento e ampliar o acesso, o SUS incorporou recentemente uma tecnologia para tratar esse tipo de tumor, denominada terapia fotodinâmica, desenvolvida por físicos e engenheiros da Universidade de São Carlos (UFSCar).
Esta é a primeira vez que uma universidade brasileira consegue incorporar uma tecnologia no SUS a partir de inovações tecnológicas integralmente desenvolvidas e testadas no Brasil.
De baixo custo e fácil produção, a incorporação foi recomendada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que considerou o tratamento uma alternativa segura e eficaz para os casos em que a intervenção cirúrgica não é recomendada. Dependendo do caso, o paciente pode ser diagnosticado e tratado no mesmo dia.
De acordo com estudos clínicos feitos em nove países da América Latina e apresentados durante a avaliação para a Conitec, 85% dos tumores tratados com o procedimento foram eliminados, sem efeitos adversos importantes, evitando a formação de cicatrizes e mutilações.
Como funciona?
Segundo o dr. Elimar Gomes, médico dermatologista e cirurgião dermatológico pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Grupo de Dermatologia do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, a terapia fotodinâmica é um procedimento médico ambulatorial que pode ser utilizado no tratamento de casos selecionados de câncer de pele e tem duas etapas principais.
“Primeiro, um medicamento fotossensibilizante em creme é aplicado na área afetada da pele com lesões. Esse medicamento tem efeito seletivo sobre as células cancerígenas. Em seguida, a área é exposta à luz de uma fonte específica, geralmente um LED de luz vermelha. A interação entre a luz e a pomada destrói seletivamente as células cancerígenas (os tecidos sadios são preservados). Após a aplicação, a região tratada fica muito inchada, avermelhada e sensível – como se tivesse ocorrido uma queimadura –, e se recupera após cinco a sete dias com cuidados locais que devem ser orientados pelo médico assistente”, detalha o especialista.
O tratamento ocorre em duas sessões, repetindo o mesmo procedimento, com intervalo de uma semana entre elas.
A terapia fotodinâmica serve para todos tipos de câncer de pele?
O dr. Gomes explica que a terapia fotodinâmica tem um uso pontual, pois só é eficaz para tumores superficiais e de baixo risco de recorrência. Em geral, ela pode ser indicada no tratamento de carcinoma basocelulares do tipo superficial, carcinoma espinocelulares intraepiteliais (in situ) e doenças pré-cancerosas da pele, como queratose actínica.
“É muito importante destacar, entretanto, que todos os tipos de câncer de pele, independentemente do tamanho, quando localizados na região de cabeça e pescoço, região genital, mãos e pés são considerados de alto risco de recorrência e a primeira escolha de tratamento para essas lesões é a cirurgia. A escolha desse tipo de tratamento se deve ao alto índice de cura e do controle histológico, em que a gente tira um fragmento de pele para ser examinado e assim determinar se o tumor foi removido completamente ou não”, destaca o dermatologista.
O médico reforça, entretanto, que a terapia fotodinâmica é um método destrutivo e, por esse motivo, é extremamente importante que as lesões tratadas com essa técnica sejam acompanhadas com maior frequência para identificar possíveis recorrências.