Quais os prós e contras da telemedicina na pandemia?

A covid-19 trouxe luz ao debate sobre a telemedicina, ferramenta com potencial de ajudar no atendimento, mas que esbarra em alguns obstáculos.

Com a chegada da covid-19, muito se falou sobre a telemedicina, que tem como objetivo facilitar a vida da população, mas pode encontrar barreiras que impeçam o atendimento de todos.

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Publicado em: 2 de agosto de 2021

Revisado em: 2 de agosto de 2021

Com a chegada da covid-19, muito se falou sobre a telemedicina, que tem como objetivo facilitar a vida da população. Mas será que funciona para todos? Saiba mais. 


Com a chegada da pandemia da covid-19 no Brasil e a necessidade do isolamento social para diminuir o risco de transmissão, as teleconsultas se tornaram uma alternativa para as idas de rotina ao consultório. Assim, o médico pode avaliar quando é realmente necessário uma consulta presencial e quando é possível fazer o acompanhamento remoto. Troca de receitas, acompanhamento de exames, sessões de terapia, entre outras situações, podem ser realizadas sem que o profissional e o paciente estejam no mesmo ambiente físico.

As teleconsultas são parte da chamada telemedicina, um conjunto de tecnologias utilizada para facilitar não só a vida do paciente, mas dos profissionais também, integrando prontuários, exames e outras informações que podem agilizar processos. Outras áreas, como pesquisa e diagnóstico, também podem ser incluídas. 

“A telemedicina teve esse boom durante a pandemia. Não só a telemedicina, mas a gente pode falar sobre a utilização de videochamadas para consultas. Já havia movimentações tímidas por parte dos conselhos de medicina antes, mas não estava na cabeça de todo mundo que a teleconsulta tem a sua devida efetividade”, afirma Arthur Lima, dentista e um dos fundadores da AfroSaúde, uma health tech focada em serviços de saúde para a população negra.

Entretanto, apesar de ser uma ideia atrativa, existem prós e contras que devem ser avaliados, além das dificuldades de inserir esse tipo de atendimento para todos, já que requer recursos dos sistemas de saúde e do paciente.



Acesso à internet

Apesar de a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019, feita pelo IBGE, indicar que 82,7% das casas brasileiras possuem acesso à internet, é preciso analisar qual a qualidade e o meio utilizado. 

“A gente sabe que a internet não é igual para todo mundo no Brasil. Seja na periferia ou na zona rural, existem lugares em que o plano de dados do celular não funciona perfeitamente ou que a banda larga de qualidade não chega. Isso acaba criando barreiras”, aponta Arthur.

Pensando nisso, a AfroSaúde irá lançar no início de agosto um aplicativo em que as pessoas podem agendar consultas, presenciais ou por vídeochamada, que seja mais acessível. O foco da plataforma é aproximar profissionais negros de pacientes negros.

O fundador da health tech defende que além da questão do acesso às tecnologias, aproximar a representatividade é o maior intuito do aplicativo. “Vamos mostrar para o público preto e periférico que existe uma plataforma que eles podem usar, segura e efetiva, que tem profissionais que vão entender suas questões, e que a tecnologia é alcançável. Não é uma coisa que só as pessoas de alto poder aquisitivo tem.”

O aplicativo da AfroSaúde promete ser leve, para ocupar menos espaço do celular e consumir menos dados, intuitivo e limpo. Assim o usuário gasta menos tempo utilizando-o e consegue focar na sua necessidade.

Veja também: Telemedicina: O papel do paciente e o papel do médico | Coluna

 

SUS

Outro ponto é que a grande maioria dos serviços que utilizam as teleconsultas é privada, de convênios médicos ou consultas particulares. O Sistema Único de Saúde tem poucos exemplos, e carece de políticas públicas, estrutura e equipes disponíveis preparadas para esse tipo de atendimento.

Cerca de 67% dos usuários que dependem exclusivamente do SUS são negros, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O mesmo vale para os planos de saúde: 78,8% das pessoas negras do Brasil não possuíam nenhum plano de saúde, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013. Por esse motivo, o acesso dessa população à telemedicina se torna mais restrito.

Em junho de 2020, a prefeitura de São Paulo lançou o aplicativo e-saúdeSP, que possibilitou um primeiro atendimento para aqueles com suspeita de covid-19, mas que não se limita apenas à pandemia. Histórico do paciente, exames, carteira de vacinação, entre outras informações estão disponíveis para o usuário, tanto pelo aplicativo como pelo site da plataforma. Em março deste ano, o app atingiu 100 mil usuários. Mas vale ressaltar que essa é uma das primeiras iniciativas no âmbito do SUS.

 

Especialidades

Locais remotos, afastados dos grandes centros, tendem a ter um menor número de profissionais de saúde. Com a criação do programa Mais Médicos, profissionais generalistas chegaram às áreas mais remotas do país, mas em casos em que é preciso consultar médicos especialistas, a telemedicina poderia ser utilizada.

De acordo com o estudo Demografia Médica no Brasil 2020, cerca de 62,4% dos médicos brasileiros estão em apenas 48 cidades, todas com mais de 500 mil habitantes. Por conta disso, cidades menores têm um déficit, às vezes com menos de um médico por mil habitantes, recomendação mínima da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Enquanto o estado de São Paulo possui cerca de 93 mil médicos com registro em alguma especialidade, o Maranhão tem pouco menos de 4 mil profissionais. Apesar da população do primeiro ser muito maior (44 milhões de pessoas), o percentual de profissionais por 100 mil habitantes tem uma grande diferença: 211 em SP, contra 56 no Maranhão.

 

Posso usar a telemedicina em todos os casos?

Vale lembrar que a medicina feita com as mãos é essencial e não deve ser substituída. Consultas em vídeos devem ser utilizadas de forma criteriosa e bem avaliada pelo profissional. A Lei 13.989, de abril de 2020, que regularizou a telemedicina no país, define que é dever do médico informar ao paciente todas as limitações de não ter uma consulta presencial. Até o momento, a regulamentação só está em vigor enquanto durar a pandemia de covid-19. A regulamentação permanente está em debate na Câmara dos Deputados.

Veja também: Saúde na pandemia: Covid-19 reduz atendimentos e diagnósticos de outras doenças

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