Manaus vive colapso no sistema de saúde, sem previsão para acabar

Faltam oxigênio e outros insumos médicos necessários ao atendimento de pacientes com covid-19 em Manaus. O colapso do sistema de saúde afeta a assistência a doentes de outras enfermidades na região.

close em cilindro de oxigênio hospitalar. Falta oxigênio em Manaus

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Publicado em: 15 de janeiro de 2021

Revisado em: 15 de janeiro de 2021

A falta de oxigênio em Manaus afeta não apenas os pacientes com covid-19, mas todos os que necessitam de atendimento hospitalar.

 

A médica residente Anne Caroline da Silva Menezes, do Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus, Amazonas, acordou no dia 14 de janeiro de 2021 com a notícia de que estava faltando oxigênio no local em que trabalha. Hoje, dia 15/1, ela relata que o hospital tem autonomia suficiente para somente até o fim do dia e que o cenário ainda é muito preocupante. Mesmo com a chegada dos aviões da Forca Aérea Brasileira (FAB), médicos consultados por esta reportagem afirmam que o suprimento do insumo ainda não foi normalizado e que a situação de instabilidade ainda deve permanecer por mais alguns dias.

“Foi a situação mais desesperadora que já vivi. Muitos pacientes agonizando, não conseguindo respirar, como se estivessem se afogando. E a gente não tendo como ajudar. É uma situação muito difícil de explicar. São pessoas jovens, na faixa dos seus 18, 20 anos. Um cenário muito diferente do que ocorreu em março e abril do ano passado.”

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Desde ontem, Manaus vive um verdadeiro colapso no sistema de saúde em meio à explosão dramática de casos de covid-19 no estado. Com quase 4 mil registros em um único dia, o estado bateu todos os recordes de casos. Só em Manaus, na data de ontem (14/1), foram 2,5 mil casos novos, com mais de 200 sepultamentos. Há carência de suprimentos médicos de todos os tipos, mas a falta de oxigênio é o que mais preocupa os especialistas, que ficam de mãos atadas, apenas administrando o fluxo de ar de cada paciente.

Para se ter uma ideia, segundo depoimento do governador do estado do Amazonas, Wilson Lima, à Agência Brasil, a demanda por oxigênio na rede estadual de saúde era de cerca de 5 mil metros cúbicos. Na última quarta foram necessários quase 60 mil. Entretanto, é importante ressaltar que a multinacional White Martins, que fornece oxigênio à região, afirma por meio de nota que comunicou o governo federal e o governo do estado do Amazonas sobre a dificuldade para a realização do fornecimento de oxigênio medicinal para Manaus na semana passada.

Você ajuda muito se sair o mínimo possível de casa e não ficando doente. Não há leitos para mais ninguém aqui

O fisioterapeuta Alessandro Magno de Figueiredo Lacerda trabalha no Hospital Getúlio Vargas e no Hospital 28 de Agosto, e disse que em mais de 20 anos de carreira nunca presenciou nada parecido. “Tivemos que parar em diversos momentos e  “ambuzar” (técnica de ventilação manual) o paciente. Foi um caos. Uma verdadeira força tarefa de inúmeros profissionais da saúde. Algo que nunca vi.”

Ele conta que o terceiro turno do expediente foi na casa do cunhado, que está em estado grave, mas como não há vagas em hospitais públicos e privados, estava sendo atendido em casa. “Depois de muita luta, conseguimos encaminhá-lo para São Paulo por meio de um serviço de taxi aéreo.”

A médica emergencista Uildeia Galvão da Silva, do Hospital 28 de Agosto, relata que a situação ainda é caótica por lá. Há uma ala com 90 pacientes graves, mas ela não sabe ainda a que horas o reforço de oxigênio vai chegar. “Não temos informação de quando e nem se vai chegar hoje ainda.”

Ela conta que, de acordo com sua experiência clínica, tem a impressão de que a variante nova causa quadros mais graves e tem um índice de transmissibilidade maior. “É algo que não vimos na chamada primeira onda. Agora a gente recebe família inteiras que foram contaminadas. Gente que já chega com 100% do pulmão comprometido. É um cenário desolador. Em cinco dias, assinei mais de 20 atestados de óbitos. Nunca fiz isso.”

Especialistas, no entanto, dizem que ainda são necessários mais estudos para compreender os efeitos da nova variante (ver aqui).

Nas últimas horas, 235 pacientes — incluindo mais de 60 bebês prematuros, internados em UTIs neonatais — começaram a ser transferidos para hospitais de outros estados, mas os especialistas consultados foram unânimes em fazer um apelo: “Você ajuda muito se sair o mínimo possível de casa e não ficando doente. Não há leitos para mais ninguém aqui”.

 

Quer ajudar o Amazonas? 

SOS AM. Projeto Somar. A ONG está fazendo doações de EPIs e oxigênio.

(92) 981038708.

Outra opção é perguntar diretamente aos hospitais do que eles estão precisando. 

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