Brasil não deve cumprir as metas de saúde estabelecidas pela ONU

Brasil dificilmente cumprirá os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pela ONU para a saúde até 2030, ano determinado pela Organização para que os países cumpram seu compromisso. Leia na coluna de Mariana Varella.

computador mostrando logo com os ODS da ONU para várias áreas, entre elas a saúde

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Publicado em: 21 de setembro de 2023

Revisado em: 21 de setembro de 2023

Brasil terá dificuldades para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para a saúde. Leia na coluna de Mariana Varella.

 

O Brasil está longe de alcançar os objetivos de saúde estabelecidos pelas Nações Unidas (ONU), com os quais se comprometeu em 2015.

Nesse ano, os 193 países-membros da ONU definiram, na Assembleia Geral das Nações Unidas, uma agenda de desenvolvimento sustentável, a Agenda 2030, que estabelece metas que devem ser alcançadas até 2030 nas áreas social, ambiental, econômica e institucional.

Essa Agenda, composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), busca acabar com a pobreza, reduzir as desigualdades, agir contra a mudança climática, entre outros fins.

Alguns dos ODSs são: garantir a erradicação da pobreza; fome zero e agricultura sustentável; saúde e bem-estar; educação de qualidade; igualdade de gênero; energia limpa e acessível; etc.

As metas ajudam empresas, organizações e instituições a orientarem suas ações com base nesses objetivos. Cada país estabelece suas condutas e planos com o intuito de cumprir a Agenda 2030.

Na semana passada, na sede das Nações Unidas em Nova York, houve um encontro das instituições e empresas membros do Pacto Global da ONU, iniciativa da Nações Unidas para engajar empresas e organizações na adoção de princípios e ações que ajudem o país a cumprir os ODSs.

O trabalho do Pacto Global é louvável. Qualquer empresa preocupada com o desenvolvimento sustentável deveria ao menos conhecê-lo. No entanto, o Pacto conta com pouco menos de 2 mil empresas comprometidas com os ODSs, o que ainda é pouco, considerando um país com as dimensões do Brasil.

Na área da saúde, o ODS 3, o país definiu alguns objetivos bastante audaciosos, levando em conta a atual realidade local. Vejamos alguns:

 

Redução da mortalidade materna

Até 2030, os países da ONU devem reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100 mil nascidos vivos.

O Brasil se comprometeu a reduzir a razão de mortalidade materna para no máximo 30 mortes por 100 mil nascidos vivos.

De acordo com dados preliminares do Observatório Obstétrico Brasileiro, a mortalidade materna brasileira vem aumentando nos últimos anos. 

Em 2019, a taxa de mulheres que morriam em consequência de complicações ocorridas antes, durante ou após o parto era de 55,31 por 100 mil nascidos vivos. 

Em 2020, esse número subiu para 71, 97. Em 2021, a taxa foi ainda mais alta: 107,53 mortes por 100 mil nascidos vivos.

No continente europeu, a taxa média de mortalidade materna é de menos de 13 a cada 100 mil nascidos vivos, segundo o Relatório da Saúde Europeia,.

O que leva o Brasil a apresentar índices de mortalidade materna tão elevados é a falta de assistência à saúde da gestante e do recém-nascido. É preciso aumentar o investimento e preparar equipes qualificadas na atenção básica para acompanhar as gestantes durante toda a gravidez e identificar as gestações de alto risco.

A maioria das causas de mortalidade materna são evitáveis, provocadas por hipertensão, infecções, complicações no parto, hemorragias e abortamento inseguro.

Veja também: A mortalidade materna é um problema grave

 

Mortalidade infantil

Até 2030, os países se comprometeram a acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, reduzindo a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por mil nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para pelo menos 25 por mil nascidos vivos.

A meta do Brasil foi ainda mais ambiciosa: reduzir a mortalidade neonatal para no máximo 5 por mil nascidos vivos e a mortalidade de menores de 5 anos para no máximo 8 por mil nascidos vivos.

De acordo com a Fundação Abrinq, em 2021 a taxa de mortalidade de menores de 1 ano foi de 12,4 por mil nascidos vivos, e a de crianças menores de 5 anos, de 14,4 por mil nascidos vivos.

Embora a taxa de mortalidade infantil (TMI) brasileira tenha apresentado declínio no período de 1990 a 2015, passando de 47,1 para 13,3 óbitos infantis por mil nascidos vivos, segundo o IBGE, ela aumentou nos últimos anos.

As principais causas das mortes de crianças menores de 6 anos no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), são as complicações perinatais (pouco antes ou depois do parto) ou doenças respiratórias, infecciosas e parasitárias, ou seja, que poderiam ser evitadas com atendimento médico apropriado na primeira infância, vacinas e saneamento básico.

 

Epidemias de doenças infectocontagiosas

Os países se comprometeram a, até 2030, acabar com as epidemias de aids, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas, e combater a hepatite, doenças transmitidas pela água, e outras doenças transmissíveis.

O Brasil prometeu acabar, como problema de saúde pública, com as epidemias de aids, tuberculose, malária, hepatites virais, doenças negligenciadas, doenças transmitidas pela água, arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti e outras doenças transmissíveis. 

No entanto, segundo o IBGE, a taxa de tuberculose no Brasil caiu pouco na última década: em 2010, houve 36,70 casos notificados por 100 mil habitantes. Em 2021, esse número diminuiu para 34,20, isso sem considerar a subnotificação de casos, que especialistas afirmam ser alta.

A malária e a dengue também estão longe de acabar. Em 2020, houve mais de 145 mil casos notificados de malária, de acordo com o Ministério da Saúde, e mais de 1,5 milhão de casos de dengue em 2022.

É pouco provável que o Brasil cumpra os ODSs em outras áreas até 2030, e certamente não os atingirá na saúde.

O descaso com que o último governo federal tratou a saúde no país, somado à pandemia de covid-19, fez o Brasil retroceder em vários indicadores. 

Espera-se, no entanto, que o país concentre esforços e recursos para fortalecer a atenção gratuita à saúde por meio do SUS, como garante a Constituição, e reduzir os índices de doenças e mortes evitáveis, como todas as citadas nesta coluna.

Veja também: Diferença entre dengue, zika e chikungunya

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