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Sexualidade

Circuncisão, um santo remédio | Artigo

mão de cirurgião segura bisturi antes de fazer circuncisão
Publicado em 19/04/2011
Revisado em 11/08/2020

A circuncisão diminui o risco de contaminação pelo HIV, HPV e pela bactéria causadora da sífilis

 

A circuncisão é arma de grande valor no combate à aids.

As primeiras evidências surgiram nos anos 1980, quando alguns médicos observaram que a prevalência da infecção pelo HIV, na Ásia e na África, parecia mais baixa, em regiões nas quais os homens eram circuncidados por imposição religiosa.

Vários estudos realizados nos anos seguintes obtiveram resultados contraditórios, até que em 2002, Bertram Auvert, da Universidade de Versalhes, realizou o primeiro trabalho criterioso para comparar a prevalência do HIV entre homens submetidos ou não à circuncisão, em Orange Farm, na África do Sul, comunidade com grande número de casos de aids.

 

Veja também: De volta à circuncisão

 

Depois de 12 meses, o comitê de segurança do estudo decidiu interromper o acompanhamento e oferecer circuncisão para todos os participantes. Os dados eram indiscutíveis: 60% de proteção entre os homens heterossexuais operados.

Desde essa data, mais dois ensaios clínicos foram efetuados: um no Quênia, outro em Uganda. Ambos foram interrompidos por causa dos resultados francamente favoráveis à circuncisão.

Hoje ninguém mais discute: em homens heterossexuais, ela reduz em 50% a 60% os índices de transmissão do HIV. Os epidemiologistas calculam que 3 milhões de vidas poderiam ser salvas, apenas na região abaixo do deserto do Saara, caso esse procedimento cirúrgico fosse colocado à disposição.

Além da proteção contra o HIV, homens circuncidados apresentam menos infecções pelos papilomavírus, pelo treponema da sífilis e pelos vírus do herpes genital.

Os mecanismos através dos quais a circuncisão protege são mal conhecidos. Provavelmente, a pele que recobre a glande cria um espaço que funciona como reservatório para o HIV (e outros germes) e assegura contato prolongado do vírus com as mucosas, facilitando seu acesso à corrente sanguínea.

Nos países em que a prevalência do HIV é alta, estaria a circuncisão indicada para todos os homens?

Qualquer estratégia preventiva para combater a transmissão de uma doença infecciosa deve ser baseada em dados científicos. No caso da epidemia de aids, infelizmente, a intromissão indevida de grupos que defendem interesses religiosos, econômicos ou políticos retarda e às vezes impede a introdução de programas que evitariam muito sofrimento humano.

Infelizmente, não existe consenso. Primeiro, porque os críticos a consideram um procedimento cirúrgico sujeito a complicações; segundo, por motivos econômicos e políticos.

O primeiro argumento é mais fácil de discutir. De fato, quando a cirurgia é realizada por pessoas despreparadas, em locais inadequados e com más condições de higiene, as complicações ocorrem com maior frequência. Caso contrário, são bem raras. Nos estudos africanos citados, elas variaram entre 1,7% e 3,6%, números não muito distantes dos 0,2% a 2% referentes às complicações das circuncisões realizadas em meninos, nos Estados Unidos.

O segundo argumento é mais problemático. A justificativa econômica se baseia no fato de que para oferecer circuncisões em larga escala, seria necessário alocar recursos materiais e deslocar profissionais que prestam serviços em outras áreas da saúde (atendimento à infância, cuidados maternos, combate à tuberculose, etc.), justamente em países pobres que se ressentem da escassez de ambos.

Além dessas restrições economicologísticas, alguns governantes dos países africanos mais atingidos pela epidemia tendem a receber com desconfiança as sugestões que vêm de seus antigos colonizadores. Ainda mais, quando são propostos procedimentos cirúrgicos.

Alegam que depois da circuncisão os homens poderiam sentir-se mais confiantes e engajar-se em práticas sexuais inseguras, e que não há evidências diretas de que as mulheres seriam protegidas.

Os estudos, no entanto, mostram que o comportamento sexual dos homens circuncidados não difere significativamente dos demais e que eles se tornam mais receptivos aos programas de educação sexual. Quanto à proteção oferecida às mulheres, as evidências indiretas são indiscutíveis: quanto menor o número de homens infectados numa comunidade, mais baixo o risco de transmissão do vírus nas relações heterossexuais.

Qualquer estratégia preventiva para combater a transmissão de uma doença infecciosa deve ser baseada em dados científicos. No caso da epidemia de aids, infelizmente, a intromissão indevida de grupos que defendem interesses religiosos, econômicos ou políticos retarda e às vezes impede a introdução de programas que evitariam muito sofrimento humano.

No caso da circuncisão em países com alta prevalência de aids, leitor, se dispuséssemos de uma vacina capaz de proteger 50% a 60% dos homens, deixaríamos de vacinar os meninos antes da puberdade?

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