Pesquisa aponta falhas na prevenção de hepatites em salões de manicures de SP

Pesquisa recente mostrou que uma em cada 10 manicures de SP estava infectada com o vírus da hepatite. Leia mais sobre manicures e o risco de hepatites.

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Publicado em: 16 de setembro de 2014

Revisado em: 21 de outubro de 2021

Mesmo que hoje muitas mulheres levem seu material e exijam itens descartáveis, a realidade não é tão animadora, visto que grande parte dos estabelecimentos atua de forma irregular. Leia sobre manicures e o risco de hepatites. 

 

Quando você vai ao salão de beleza “fazer” as unhas, já reparou se a manicure utiliza luvas? Além disso, você tem o costume de levar seu próprio material, como alicate, lixa, palito ou toalhinha? Se a resposta for não para ambas as perguntas, talvez seja melhor repensar seus hábitos, pois o risco de se contaminar com o vírus das hepatites é muito alto.

Andreia Schunck é enfermeira do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, e sempre notou que muitos pacientes com hepatites B ou C que iam buscar tratamento no local eram profissionais ligados à área de beleza. Para tentar entender os motivos dessa relação, ela decidiu acompanhar de perto a realidade das manicures e utilizar os dados em sua tese de mestrado.

Percorreu sozinha cerca de cem salões da cidade de São Paulo (1.400 horas de coleta de dados), escolhidos de maneira aleatória, localizados tanto em bairros periféricos do município quanto em locais nobres e shoppings. Quando chegava aos estabelecimentos, explicava a metodologia para a profissional e depois ficava observando o trabalho dela, para ver se as normas de higiene eram seguidas. Entre uma unha e outra, aproveitava para aplicar um questionário e depois colher uma amostra de sangue da manicure, que ela levava para análise. O resultado chamou atenção, já que 8% das profissionais estavam contaminadas com o vírus da hepatite B e 2%, com o da hepatite C. “Uma em cada 10 estava contaminada com o vírus, o que é uma prevalência muito alta. Elas não possuíam fatores de risco associados, a não ser a própria profissão”, comenta Schunck.

Retirar as cutículas faz com que as unhas fiquem desprotegidas e tornem-se porta para diversas doenças. “Elas faziam as próprias unhas e não utilizavam luvas. Então quando a manicure tirava a cutícula de uma cliente e, de repente, sangrava, ela mesma estancava o sangramento com o próprio dedo. Entretanto, elas não se dão conta de que se a pessoa estiver contaminada, ela também pode se contaminar”, alerta a especialista. Na época, as profissionais argumentavam que suas clientes eram “limpinhas”. Segundo a pesquisadora, as manicures também não tinham o hábito de lavar as mãos entre uma cliente e outra.

Em relação à esterilização dos equipamentos, a pesquisadora encontrou mais problemas. Em muitos locais visitados, em vez das autoclaves – aparelhos de esterilização mais seguros -, as profissionais usavam forninhos elétricos domésticos, os mesmos utilizados para assar pães. “Elas tiravam uma fornada de pão de queijo e colocavam o alicate lá dentro. Quando as pontinhas do instrumento ficavam vermelhas, elas o consideravam esterilizado”, explica a enfermeira.

No caso das autoclaves, o tempo para esterilizar o material é de aproximadamente duas horas. A temperatura ideal depende do fabricante, mas varia de 121°C a 134°C .

Lixas, alicates, toalhas, espátula, nada era descartável nos salões. Além disso, as clientes não tinham o costume de levar seu próprio material, prática que começou a mudar um pouco depois da pesquisa de Andreia, que teve repercussão nacional. Ela iniciou o estudo em 2005 e o concluiu em 2009. Como a pesquisa era única, ou seja, nenhum outro levantamento havia chegado a essas conclusões, sua tese foi qualificada para o doutorado.

A pesquisa gerou um impacto enorme na população, e o Ministério da Saúde a convidou para escrever uma cartilha direcionada aos profissionais de salão de beleza. Veja aqui.

Entretanto, apesar das mudanças que gerou – instigou muitas mulheres a levarem seu material e exigirem que os salões forneçam itens descartáveis, a realidade ainda não é tão animadora. Isso porque grande parte dos estabelecimentos atua de forma irregular, o que dificulta a ação da Vigilância Sanitária. “Há uns dois anos eu visitei 13 estabelecimentos junto com o dr. Drauzio Varella para uma série do Fantástico e a situação não mudou muito. As clientes ainda não levam todo material. Esquecem o alicate ou a lixa, por exemplo. São raras as manicures que utilizam luvas”, diz Andreia.

Leia dicas de proteção para profissionais e clientes aqui.

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